O que dizer dessa edição do Rock in Rio? Sim, mais uma vez, o público-alvo é aquele que já conhecemos: branco, belo, classe média (de preferência da Zona Sul) e meio anestesiado – afinal, o RiR é espaço mesmo de entretenimento e diversão
Mas essa edição de 2017 veio com um leve toque de diferença, a começar pelas atrações logo do primeiro dia. Em homenagem ao centenário do samba, a produção do festival convidou um time de bambas para se apresentarem: Alcione, Roberta Sá, Jorge Aragão, Martinho da Vila, Mestre Monarco e Criolo fizeram um grande show, e quem teve a honra de abrir os trabalhos foi o Jongo da Serrinha. Antes, a favela já tinha dado pinta no Palco Sunset com o Dream Team do Passinho.
No dia seguinte, a cultura negra e de periferia voltou ao palco e fomos presenteados pelo belíssimo show do rapper Rael, que teve como convidada especial ninguém menos que a eterna diva Elza Soares. Vimos ali um libelo contra o racismo e o machismo. Logo depois, Emicida e Miguel viveram o encontro de dois rappers que, apesar de nascerem em países diferentes, possuem trajetórias parecidas por suas infâncias nas periferias.
Ontem, a turma da Lellezinha e o passinho estiveram de volta ao palco no show da musa Alicia Keys. Ela ainda convidou ao palco Pretinho da Serrinha e a líder indígena Sonia Bone Guajajara, que pediu mobilização popular para a demarcação de terras na Amazônia.
Tá bom, mas o povo da favela e da periferia? Participa da festa? Infelizmente, esse povo ainda está longe de ser contemplado. O povo preto e favelado se faz presente neste e em outros grandes eventos principalmente nos serviços braçais: faxineiros, carregadores, seguranças, copeiras, arrumadeiras, atendentes de lojas e bares. Esses são os lugares onde essas pessoas são vistas, porém, nunca olhadas. Nas áreas técnicas e de produção, até vemos algumas delas, mas são bem poucas.
O que podemos efetivamente propor ou fazer para que essa diferença tão gritante, ao menos, diminua? Apesar do festival apresentar contrapartidas bem interessantes, como o replantio de árvores na Amazônia ou doação de equipamentos a escolas da rede municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro, são iniciativas ainda insuficientes.
A direção do festival já anunciou que planeja para 2019 um palco dedicado à favela, com bandas e artistas vindo das periferias de todo o país. Espera-se que possam ir além dos boatos que dão conta que a produção pretende criar uma favela cenográfica. Tudo que não precisamos é a glamourização da pobreza e miséria.
Obs.: deixo um salve para os ganhadores da promoção Eu Sou da Favela e Vou Pro Rock in Rio, que levou seguidores da Agência de Notícias das Favelas para curtir o dia de ontem na Parque Olímpico e resultou na foto que o leitor pode ver lá em cima.