Quem pensa que a montagem de hospitais de campanha equipados e a contratação de pessoal especializado para atendimento será a solução para todos os problemas gerados pelo coronavírus, segure-se na cadeira porque vem por aí a “terceira onda”, reportada por Fernando Canzian na edição dominical deste dia 26 da Folha de S. Paulo. A nova onda será o enfrentamento de milhões de cirurgias e consultas adiadas, acompanhamentos de diabéticos e hipertensos suspensos indefinidamente pela emergência da pandemia e a falta de pessoal e de equipamentos de segurança, que atinge a maior parte dos profissionais.
Com consultas e cirurgias canceladas, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), com 47,7 mil equipes no país, prevê novo estresse do sistema nas próximas semanas diante da falta de acompanhamento de pacientes crônicos, sobretudo de hipertensos/cardíacos e dos diabéticos, que somam até 40% e 20% da população, respectivamente. Estas são duas das principais comorbidades associadas às mortes pela Covid-19, e sozinhas estão no topo das principais causas de óbitos no país.
Em muitos estados, as equipes de saúde tentam ampliar os atendimentos via redes sociais e aplicativos de vídeo, mas a limitação do acesso a telefones e internet ou a falta de familiaridade dos pacientes com esses meios dificulta a implantação da novidade. Outra dificuldade é que os próprios doentes crônicos, sobretudo os mais idosos, têm evitado procurar as unidades de saúde temendo ser contaminados pelo coronavírus.
Nem todos os estados e municípios informam ao Ministério da Saúde os casos da chamada Síndrome Gripal que, além de febre, incluem mais um sintoma, como tosse — e não há testes para confirmar se é Covid-19. Assim, só comunicam as chamadas Síndromes Respiratórias Agudas Graves, geralmente relacionadas ao coronavírus.
Além da falta de equipamentos de proteção individual, EPIs, e dos atrasos na chegada de kits para testes, há relatos de que a divulgação de seus resultados, quando existem, chegam a demorar quase três semanas.
Apesar da redução das consultas em ambulatórios, em estados onde o número de infectados é menor e o sistema ainda tem folga nas UTIs, há um esforço para manter o acompanhamento de doentes crônicos.