2014 estava maquiado de Copa. 2015 estava maquiado de luta anti-corrupção (kkkkkk). 2016 estava maquiado de Olimpíadas.
2017 está aí: borrado, humilhado, escangalhado, falido. O primeiro ano pós-olímpico foi a vitória do senso comum sobre a propaganda do mercado. Triste vitória… Porque era apenas a previsão óbvia da derrota cívica. Enquanto a mídia, eufórica, cúmplice, pró-Cabral até o talo, prometia legados e mais legados, o zé-povinho (nós), com sua sabedoria ancestral, era certeiro e sucinto: “Vocês vão ver depois da Olimpíadas…”.
Agora, está tudo claro: nunca uma população tão dividida se lascou tão juntinha.
Fomos sendo seguidamente ludibriados: pelo futebol, pelas manifestações gentrificadas, pelo grande evento esportivo mundial. A cada ano, um me-engana-que-eu-gosto era bem sucedido!
Esperança é uma coisa bonita, mas os paneleiros tinham esperanças patéticas e se agarravam a heróis ostensivamente inaceitáveis. Deu no que deu…
E agora? Muitos estão presos. O ex-governador, as autoridades olímpicas, as autoridades da Fifa, os bambambans da Alerj… A mídia faz com Cabral o mesmo que Cabral fez com o Garotinho: finge que não conhece, que nunca foram parceiros, que jamais caminharam de mãos dadas e felizes.
As UPPs, mola-mestra da fantasia, estão humilhadas, arruinadas, em frangalhos… A política de segurança simplesmente não existe. A corrupção policial assume níveis vexaminosos (vide o Batalhão de São Gonçalo). A milícia se expande. Uma epidemia de assaltos assola a cidade. Os tiroteios são diários, espalhados. Toda semana morre inocente, morre criança, morre adolescente. Pra quê? Pra nada. Uma guerra imbecil e sem resultado é tudo que o Estado tem para o oferecer. Falta imaginação, ousadia e humildade. Sobra soberba, arrogância e falta de visão. O Estado é um fracassado que não volta atrás, um general derrotado seguidamente e que segue se achando o rei da estratégia.
Mas quem sabe (precisamos de alguma esperança) uma sociedade desintegrada e falida é a grande chance de reinvenção para ela mesma.
Basta saber se teremos essa disposição. Precisamos ter. Precisamos ousar. Sonhamos Pré-Sal. Viramos Pré-Síria. O que será do Rio de Janeiro? Estamos em pleno abismo, conterrâneos. Um dia – por puro desespero – entraremos, todos, para a política. E reentenderemos o sentido da palavra.
Se queremos ter um feliz ano novo… Teremos que dar o melhor de nós mesmos, de forma coletiva e inédita.
Boas festas a todos.