Tia Bete e a Oca dos Curumins

Créditos - Nathalia Menezes

Saindo da cidade de Cruzeiro no estado de São Paulo com sua família, Elisabete Aparecida Dias da Silva, chegava ao Complexo do Alemão em 68. Sua nova moradia era provisoriamente o barraco de madeira da avó. Logo começou a desbravar esse território e trilhar uma nova trajetória a partir da sua infância pelas ruas da comunidade da Alvorada. Vendo as crianças da rua precisando de apoio com os deveres escolares, começou a usar a sala da casa da mãe para ensinar esses pequenos. A sala ficou pequena e começou a ocupar a laje.

Com isso, percebeu que precisava de um espaço só seu e maior. Mais tarde, em 89,  já casada e mãe de 3 filhos,formou-se como professora do ensino fundamental e foi se especializando em sua paixão: a alfabetização. Sempre que encontrava um curso de graça, lá estava ela agregando ainda mais conhecimento para atuar com crianças e entender seus comportamentos.

Assim seguiu com sua vocação alfabetizando crianças, jovens e adultos, usando a sua casa que passou a ser conhecida como Escolinha da Tia Bete, sendo percussora e fundadora de uma das primeiras creches comunitárias.

Eis que em 96, tirou o CNPJ de sua instituição, e a Escolinha da Tia Bete foi registrada como Centro Cultural Oca dos Curumins. Com o tempo, o espaço foi ganhando cada vez mais forma e salas, sempre de portas abertas para receber  a quem procurasse. O Centro Cultural Oca dos Curumins fica na Travessa São José, n° 13 – Alvorada. Tendo o acesso bem colorido, com frases nos degraus das escadas, o lugar ganhou mais cores graças à parceria com o Comunidade em Ação. Nas paredes, desenhos simbolizando a natureza.

Curumim é uma palavra de origem tupi, e designa, de modo geral, as crianças indígenas.

O nome da Instituição foi pensado depois que tia Bete ouviu sobre a cultura indígena. O que mais a chamou atenção nessa cultura foi o respeito. O respeito que eles têm pela terra, pelo plantio e colheita dos alimentos, pelas matas, pela natureza, pelo sol, pela simbologia dele e principalmente o respeito pelos mais velhos. E é com base nessa metodologia que há 42 anos ela se dedica a ensinar. Transmitir o respeito e aprendizado de gerações em gerações, contribuindo para o crescimento pessoal e desenvolvimento da comunidade é um dos lemas da Oca dos Curumins, o qual é um ponto de cultura e leitura.

Além da alfabetização, o espaço está sempre de portas abertas para receber, oferecer e realizar oficinas, cursos, eventos. A cultura negra tem ganhado cada vez mais força e espaço para desenvolvimento e diálogo. A capoeira de angola e o Jongo muito têm ensinado aos frequentadores. E há 18 anos também funciona o AA com o grupo Sempre Juntos.

Texto da edição do jornal A VOZ DA FAVELA de maio de 2019.