Gravação do Especial Humor Negro em Salvador. Crédito: Magali Moraes
Comediantes negros dão forma ao projeto que usa o humor para abordar situações absurdas e inusitadas que os artistas vivem atrás dos palcos e no seu cotidiano. Trata-se do espetáculo Humor Negro.
Nele, a risada está garantida com Tia Má, Sulivã Bispo, João Pimenta, Jhordan Mateus, Niny Magalhães e participação especial de Evaldo Macarrão. O especial de humor foi gravado no Teatro Vila Velha, em Salvador, e chegou às telas do Multishow, também disponível no Globoplay.
A jornalista e humorista Maíra Azevedo, conhecida como Tia Má, em conversa com a ANF, conta sobre a importância do especial Humor Negro, projeto idealizado pela produtora e jornalista Val Benvindo. Confira:
Qual impacto que sua imagem de pessoa negra, de periferia, transmite para quem se parece com você e tem a oportunidade de assistir ao espetáculo?
Eu acho que toda pessoa preta que ocupa qualquer espaço de destaque provoca nas outras, no mínimo, reflexão e, também, a possibilidade de sonhar e de ter desejos. Quando você vê alguém parecido com você, acredita que é possível chegar naqueles lugares. Para quem sempre é representado, isso pode parecer uma bobagem, mas para quem se acostumou com as ausências, quando tem a presença, o significado é muito especial.
Trata-se de representatividade.
Eu acho que eu sou alguém que representa da mesma forma que eu já me vi representada em algumas outras pessoas e, para mim, ainda é um sentimento novo, porque eu nunca sonhei estar nesse lugar, exatamente porque me foi ensinado que esse sonho não era meu. Mas, agora, eu estou realizando, mesmo sem ter sonhado. É importante estar nesse lugar porque eu sei que eu estou dando a mão para meninas e para meninos pretos da periferia que querem voar alto.
A partir desse especial, como você definiria o que é e quais os diferenciais do humor negro?
O especial Humor Negro tem a característica de ressignificar um termo que sempre foi usado de forma pejorativa, para falar da capacidade de gente preta. E mesmo com tantas mazelas que nós somos acometidas e acometidos, humor negro é a nossa resiliência é a nossa resistência em forma de gargalhada, sabe? É conseguir fazer piada de quem tenta nos oprimir, mas que já não consegue mais porque nós estamos cada vez mais nos fortalecendo e caminhando para a construção de uma sociedade igualitária que pretos, brancos e indígenas têm as mesmas oportunidades. É isso: o humor negro é a nossa resiliência, a nossa capacidade de se reinventar através do riso.
Na sua opinião, tem espaço e talento para novas edições do especial Humor Negro? Eu acho que ele tem uma vida longa. Nós temos infinitos talentos pretos que fazem humor, né? Tem Ed Junior, tem Jordan, tem Leozito, Cristian Bell, eu estou falando de meninos daqui da Bahia. Mas tem muito preto talentoso e que, muitas vezes, o racismo tira das pessoas até mesmo a oportunidade de conhecer. O especial Humor Negro para mim tem aí umas 500 edições.
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