Policiais usam creche como proteção durante troca de tiros

Hoje, 7 de fevereiro, houve um intenso tiroteio em Manguinhos, na Zona Norte do Rio. Uma das cenas mais chocantes foi a de policiais entrincheirados no Espaço de Desenvolvimento Infantil Doutor Domingos Arthur Machado Filho, localizado na Leopoldo Bulhões. Uma pessoa– a qual não será identificada por questões de segurança- falou conosco e contou que essa cena é constante na localidade.
“Ano passado, encontramos uma bala ainda não utilizada que caiu do helicóptero enquanto faziam a curva, efetuando disparos na rua. Também teve o dia em que estávamos numa atividade do mês indígena, com as crianças todas no pátio. Os policiais fizeram uma parede humana ali e ameaçaram atirar ‘nos meninos’, que seriam os traficantes. Mas haveria o retorno e as crianças seriam atingidas”, relata.
A pessoa conta que os tiroteios geralmente acontecem no horário em que os pais deixam e buscam as crianças no espaço, de manhã, no início da tarde e no final dela. Outro dia, crianças entre 4 e 5 anos choraram e gritavam que seriam mortas pela polícia, que participava de uma operação de helicóptero.
O tiroteio dessa manhã durou cerca de uma hora e meia e nenhuma criança foi ferida porque as aulas estão suspensas por conta da semana de planejamento e organização do local. Os funcionários também não sofreram ferimentos, mas a pessoa entrevistada conta que uma professora levou um tiro quando saía de sua casa, também em Manguinhos, no ano retrasado. Mesmo sendo durante um final de semana e não tendo relação com as situações de risco as quais a creche já esteve envolvida, esse caso exemplifica a violência a qual a comunidade tem sido submetida. A pessoa também afirma que já foram feitas várias reuniões – inclusive com autoridades- para que não houvesse troca de tiros no entorno do Espaço de Desenvolvimento Infantil, mas nada foi feito. A pessoa trabalha no local há 5 anos e diz que essas situações põe em risco à vida das crianças e dos funcionários é frequente e que todos que trabalham ali vivem sob efeito de remédios para controlar os efeitos causados pelo medo. “Nós não temos paz, muito menos uma vida normal”, desabafa.