Arte e cultura sempre foram e serão ferramentas essenciais para a construção de atores sociais engajados consigo mesmos, com outras realidades e demandas coletivas.

Pensar essas ferramentas de empoderamento social por pessoas que territorializam os espaços periféricos, é algo ainda mais enaltecedor, pois, além de nesses locais haver potenciais agenciamentos socioculturais, há a necessidade de se investir em ações que agreguem no sentido de descobrir, investir e persistir em pessoas que de outra maneira não têm acesso a esses bens culturais.

Pensando nisso, é que alguns jovens do bairro Terrenos Novos, periferia de Sobral-Ce, decidiram criar o TN CREW, um grupo de dança que potencializa essa arte através do breakdance, um dos elementos do hip hop.

Formado há pouco mais de três meses, esse grupo se reúne as terças e quintas feiras no final da tarde, numa associação local para ensaios.

De acordo com Dieik, um dos organizadores do movimento, essa iniciativa surgiu com o intuito de trazer para a cena do breakdance alguns b-boys que já atuaram e que por outras dificuldades acabaram se ausentando. Mas segundo ele, não é somente esses dançarinos que são bem vindos ao grupo, na verdade, todos aqueles que desejam aprender os passos da dança podem chegar, independente de idade e sexo.

Crédito: Vicente Sousa. Acervo LABOME

O grupo já conta com uma agenda de apresentações em outros espaços, como é o caso das escolas, onde já foram convidados algumas vezes, e segundo os organizadores, tiveram boa adesão da comunidade escolar.

Essa iniciativa tem sido essencial para se trabalhar no engajamento de jovens dentro daquele território, haja visto que os índices de ocorrências violentas ali são pontuais na mídia local que trata quase que exclusivamente de mostrar apenas fatos negativos.

O TN CREW tem investido seus esforços no sentido de minorar os impactos negativos que esse pânico moral tem causado, objetivando através da dança, prevenir contra a inserção de jovens e crianças com a violência, como aponta Moisés, um dos organizadores do grupo e articulador de juventude nesse território.

Como toda iniciativa de autogestão periférica, o grupo necessita de apoios. Nesse momento o grupo tem a colaboração de uma associação local para a realização dos ensaios, mas quando não é possível, eles decidem se reunir para ensaiar numa praça do bairro, contando com apenas com uma caixinha acústica e um tapete improvisado.

Crédito: Vicente Sousa. Acervo LABOME

Os outros elementos do hip hop são bastante presentes na cena cultural periférica da cidade, mas precisam de apoios diversos e integração entre si.

O rap, através das batalhas de rima tem sua cena efetivada praticamente todos os dias. Mas ainda não são comuns as apresentações de breakdance nesses momentos.

De acordo com os organizadores Dieik e Moisés essa é uma lacuna a ser preenchida, pois acreditam na força da unidade do movimento para a construção e articulação de novas resistências, sobretudo num período de grande efervescência das nefastas práticas fascistas, bem como do acometimento e aliciamento de investidas violentas nas periferias das cidades.

Crédito: Vicente Sousa. Acervo LABOME

Em síntese, o TN CREW é mais um desses grupos de autogestão periférica que de forma empoderada agencia dentro de seu território no sentido de construir as bases de vida digna para crianças e jovens dali. A dança (o breakdance) é a ferramenta de construção de cidadania e engajamento com outras causas sociais tão pertinentes e urgentes naquele território. Vale ressaltar que esse bairro tem outras iniciativas de resistências que lutam constantemente contra as investidas desse sistema cruel de desigualdade e violência, e o TN CREW vem somar com sua parcela de contribuição social tão essencial nesse instante.

Crédito: Vicente Sousa. Acervo LABOME