Há aproximadamente três meses, estive numa reunião com o governador Pezão, em que havia mais de 200 lideranças do Município e do Estado do Rio de Janeiro. Naquela ocasião, cinco líderes foram escolhidos para falar. Afinal, o governador estava com outras reuniões marcadas e não podia atender a todos. Fui um dos escolhidos. Enquanto os outros falaram sobre saneamento, eu preferi abordar o tema segurança pública. Achei ser mais pertinente, uma vez que pessoas inocentes – ou não – estão morrendo todos os dias, sendo vítimas de execuções sumárias realizadas por agentes credenciados do Estado (policiais).
Um dos palcos macabros infelizmente é o Quilombo Jacarezinho, onde por três anos consecutivos, após a implantação da UPP, não havia acontecido tiroteio. Neste período, o governo do Estado não realizou um só projeto na favela. Somente houve policiais. Chegaram a anunciar que havia 545 soldados muito bem preparados e que haveria um grande diálogo com a comunidade, a partir segundo eles, da inédita proposta de aproximação. Policiais eram vistos com pedaços de madeiras e barras de ferro nas mãos, como se não bastassem os seus cassetetes, spray de pimenta, granadas de gás lacrimogênio, fuzis, pistolas, entre outras estranhas ferramentas. Começamos então a indagar, já que achávamos que haveria o tal diálogo e não uma batalha campal.
A expectativa para o início dos projetos era grande. Estes, nunca aconteceram. Citei tudo isso ao governador naquela oportunidade. Fiz questão de frisar que centenas de crianças e adolescentes circulavam pelas ruas, becos e vielas; dia e noite. A qualquer hora que ele chegasse ao Jacarezinho poderia vê-las. Ele chegou a me perguntar quantas eram. Sem medo de errar o chute, falei que havia mais de 500, talvez 1000 crianças. Não hesitei em dizer que só havia polícia e da pior espécie possível. Ele, então, me sugeriu que fizesse um projeto a fim de acolhê-las. Fiz e com um título sugestivo: “Arrastão da Cidadania”.
Mostrei o projeto e até agora nada de resposta. Enquanto isso, três policiais foram mortos; outros, feridos junto a dezenas de moradores; e neste final de semana, mais pessoas feridas e um morto que eles estão chamando de “suspeito”. Ninguém ousa sair às ruas depois das oito horas. As crianças e adolescentes as quais queríamos que estivessem envolvidas no Arrastão da Cidadania, estão com armas nas mãos prontos para matar e morrerem. É o que está acontecendo neste exato momento no nosso Quilombo Jacarezinho onde jamais houve aproximação, projeto e cidadania. Portanto, há uma tragédia anunciada.