“Não tenha medo de adicionar à conversa. Use sua voz para fazer o bem. Seja um defensor daqueles que talvez não tenham voz.” Karen McAlister em ‘Apoio através de mídias sociais: por que trending topics são importantes’ (2016)
Black Lives Matter não é uma hashtag. Uma catedral gótica em chamas não importa. E assistir Jason Momoa raspando a barba é sexy, mas não vai limpar os oceanos. Vivemos a fase de achar que a mídia social poderia ser o berço de uma revolução, mas agora que essa ideia teve tempo para amadurecer, podemos vê-la como uma fase passageira, não é?
Algoritmos de mídia social são o disfarce da censura e do controle da mídia (Chomsky). Trending topics, que são baseados em picos acentuados no volume de menções de um tópico, podem ser facilmente fabricados e capitalizados. Por algum tempo, acreditamos que esses picos poderiam ser usados para conscientização sobre questões importantes que geralmente são negligenciadas pela Grande mídia, agindo como um processo editorial do povo. Mas agora está claro que essas são extensões da Grande mídia. Trending Topics e hashtags são ferramentas para aumentar audiência, não para mobilizar uma revolução. Eles direcionam com um rebanho desorientado de pessoas de forma enganosa, dando a entender que é por uma “Causa”, quando, na realidade, é bem mais provável que seja um elaborado esquema de marketing para algo que nem sabíamos que era um produto- Como, por exemplo, um fantástico destino turístico para uma “capital cultural”.
O marketing mudou tanto quanto o conceito de um produto, e tanto quanto os nossos gadgets. Com grandes novas tecnologias, vêm grandes novas mercadorias de audiência[1]. O capitalismo evoluiu para algo muito mais sinistro do que o descrito nos livros políticos do século XIX. Nós não estamos lidando com fábricas, objetos, preços e sub-existência. Nós lidamos com influência cultural. A Europa e os EUA têm influência, é por isso que eles não ocupam mais com tropas. Ocupam com telefonemas secretos, piscadelas políticas intercontinentais e, em casos extremos, com drones.
A internet é supervisionada, portanto controlada, através de um sistema de afunilamento, e hoje em dia essa é a ferramenta mais eficaz de influência. Às vezes, a melhor maneira de resistir é não agir. Não se envolver, não compartilhar e não usar hashtags são maneiras de não alimentar esse mecanismo. Mesmo sendo críticos, nós o alimentamos. É certamente difícil parar, mas é algo para começar a levar em consideração.
“[A lista de trending topics] é uma lista selecionada. […] ”
“Por mais que os programadores possam pensar que seus algoritmos fornecerão resultados objetivos, esses cálculos podem ser tão tendenciosos quanto um ser humano real”. ‘National Public Radio’ em 2011.
Quando interagimos com Trending Topics, ajudamos uma estratégia de marketing bem engrenada que promove um produto invisível: o domínio ocidental (sustentado por influência). Esse domínio é assegurado através do Dinheiro, do Pensamento e das Instituições. Dinheiro estrangeiro é cobiçado e a demanda por este produto é meticulosamente construída. Um exemplo extremo disso é como os EUA introduziram o conceito de papel-moeda à Arábia Saudita (juntamente com o conceito de Estado). O Pensamento, que pode ser tão amplo quanto a idéia do que significa ser humano, e tão específico quanto um corte de cabelo, também foi introduzido vigorosamente ao longo das ultimas centenas de anos, com a ajuda de Dinheiro. Agora, as Instituições são as casas blindadas desses outros dois.
As instituições acadêmicas ocidentais fizeram um trabalho alarmantemente eficaz salvaguardando o domínio ocidental na América Latina. Universidades escondem suas ambições de influência por trás da Meritocracia, alimentando o mito de que se você for inteligente e trabalhar duro, o sistema vingará para você (a mesma mentira que nos convence que a guerra por “Democracia” traz Liberdade). Elas sustentam também o mito de que a solução para toda a pobreza e falta de recursos é a pesquisa e a inovação (tecnológica), e de que o Pensamento ocidental tem sido pioneiro em ambas (desde do espelhinho à Apple), quando na verdade são eles a fonte do problema. Estas são as pessoas que vêm da Europa com um diploma em arquitetura, vão para uma ocupação ou uma favela, e dizem que a solução para suas necessidades de infraestrutura é uma plantação de bambu que começará a render em 5 anos.
Isso ajuda quem exatamente? Não ajuda as pessoas que moram em uma casa com crianças, com pouca água e eletricidade, com um telhado desmoronando, e a constante possibilidade de uma chuva causar desabamento. Ajuda a instituição européia, desenvolvendo a identidade da marca de um país ocidental que diz: “superior” mas “caridoso”. Inovar é uma necessidade, já que o estilo de exploração do século XVI está ultrapassado. É uma nova tendência da moda.
Se eles não tiverem árvores altas o suficiente para reconstruir um telhado na França, eu mandarei os mesmos conselhos deles para nós – espere alguns anos até que elas cresçam alto o suficiente e pronto. Obviamente, algumas centenas de anos de exploração e um mecanismo lucrativo de marketing tornam as coisas mais acessíveis financeiramente. Quase um bilhão de euros e uma boa redução de impostos revelam como ser “caridoso” pode ser nada mais do que uma forma de exploração disfarçada.
Resistência não é uma fase. Podemos testar estratégias, inovar, debater e etc. Mas nos prender em ciclos viciosos não é saudável. Lembra do Museu Nacional? Lembra do #MeToo? Nada disso importa. Os indígenas e as mulheres ainda estão aqui resistindo. O resto é volátil.
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[1] “A mercadoria de audiência é o principal produto produzido pela mídia que obtém sua maior renda de anunciantes. Tradicionalmente, as mídias apoiadas por anunciantes incluem: → Jornais, → revistas e formas comerciais de → Rádio, transmissão → Televisão e → televisão a cabo. A mídia apoiada por anunciantes é frequentemente contrastada com a mídia cujas principais fontes de renda são o público: → livros, música gravada e filmes. Dependendo qual a principal fonte de renda, uma empresa de mídia adaptará seu conteúdo para satisfazer as demandas de anunciantes ou públicos-alvo (→ Comercialização da mídia; Commodificação da mídia; Estrutura de custos e renda na mídia).” (Eileen R. Meehan)