O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, recebe nesta tarde, 22, a carta de demissão do Secretário de Saúde, Fernando Ferry, que a antecipou hoje cedo em vídeo divulgado nos noticiários matinais em que diz que “tentou” enfrentar a pandemia no estado, mas resistiu a 35 dias à frente da Secretaria. Com ele, sairão 30 colaboradores que o seguiram do Hospital Gaffré e Guinle, que dirigia até ser convidado por Witzel.
Ferry, médico especializado em HIV, assumiu a Secretaria de Saúde no bojo da crise provocada por desvio de dinheiro na compra de equipamentos para o tratamento da Covid-19, que abateu a equipe do ex-secretário Edmar Santos no Diário Oficial de 18 de maio. O coronel médico do Corpo de Bombeiros Alex Bousquet foi anunciado novo secretário, o terceiro em apenas seis meses deste ano.
As operações policiais batizadas por Placebo, Mercadores do Caos e Favorito estouraram o esquema de corrupção na aquisição de respiradores artificiais, máscaras de proteção e outros itens usados no combate ao novo coronavírus, que encontram excelente receptividade junto à opinião pública devido, na essência, ao seu caráter desumano e cruel por promover mais doença e mortes no momento em que toda a população consciente luta contra a contaminação exponencial.
Paralelamente, as operações deflagradas no âmbito do Rio de Janeiro têm a função política de enquadrar o governador Witzel no grupo que se não apoia abertamente o presidente Jair Bolsonaro pelo menos não faz declarações e provocações diárias, contrapondo-se às suas diretrizes e ideias. Numa das primeiras ações, a Polícia Federal citou a mulher do governador, Helena Witzel, como contratada de uma empresas investigada nas irregularidades.
Na ocasião, a operação que atingiu o governador foi anunciada de véspera pela deputado bolsonarista Carla Zambelli, de São Paulo, e no dia seguinte comemorada pelo próprio Bolsonaro como evidência da nova Polícia Federal, instrumentalizada e afinada com o Palácio do Planalto, como vinha tentando desde o tempo de Maurício Valeixo na direção geral e Sérgio Moro no Ministério da Justiça. O atual ministro, André Mendonça, pastor presbiteriano em Brasília, classificou o presidente de “profeta” em seu discurso de posse e se declarou cumpridor e seguidor de suas ordens.
Nunca é demais lembrar que o governador fluminense enfrenta processo que poderá resultar no seu impeachment na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde foi instaurado por aprovação de 69 dos 70 deputados estaduais.