Fiquei extasiado do início ao fim! O que foi aquela sensação de perda, decepção e raiva? E o pior…de medo! Medo do passado, do presente e do futuro deste estado e deste país, que comporta uma inimaginável gama de mentirosos, farsantes, criminosos  integrantes do legislativo, do executivo, dos comandos da polícia…das cúpulas de poder! Que nefasto exemplo da microfísica de poder! Que sirva de trocadilho, mas que “arsenal” não teria Foucault para analisar os grupos de poder deste país?! Certamente que, na prática,  temos consciência do que ocorre, mas… o filme é forte parceiro!

Os fatos noticiados há décadas em vários estados deste país, e principalmente no Distrito Federal (não merecia as iniciais maiúsculas), permitiram pinçar apenas do Estado do Rio de Janeiro os exemplos formadores do enredo do novo filme do Padilha, simplesmente porque existem inúmeros filmes sendo exibidos neste espaço geográfico, cotidianamente. Nós apenas deveríamos ter o trabalho de montar as partes numa cronologia dos próprios fatos.

Lamentavelmente, o Brasil possui uma fartura infinita de péssimos exemplos de quadrilha, e apenas uma pequena parte parece nos ser exposta. Aquilo que é contemplado nos filmes norteamericanos, e até nas histórias em quadrinhos, nos surge como fatos verdadeiros no Brasil. Na ficção, várias são as histórias intrigantes, que envolvem os mais diversos heróis, que combatem os mais terríveis criminosos e inimigos da sociedade,  que sempre perdem no final. Nestas histórias, existem os mais “belos seres” do bem, que lutam contra o “mal”, muitas vezes grupos organizados, sendo bandos urbanos (como o chefiado pelo “Coringa”) ou internacionais ou intergalácticos (inimigos da Liga da Justiça). Os heróis, nestas ficções, surgem para resolver aquilo que os “homens da farda” não conseguem, com suas armas. É preciso possuir “poderes” mutantes, para que o caos não se instaure.

Então indaga-se: a exemplo do que ocorre na ficção, é preciso surgir heróis, que possam minar esta tendência histórica, da qual fundou-se esta nação?

O novo filme dirigido por José Padilha, Tropa de Elite 2- O inimigo agora é outro, criado pela soma de várias cabeças (do próprio Padilha, Rodrigo Pimentel, Paulo Storani, Marcelo Freixo…) apresenta uma faceta que fez e faz parte do Estado do Rio de Janeiro, sobre a qual elegeu-se um novo inimigo social: os grupos que dominam, ou dominaram, os bairros, as favelas, as ruas em nome da “segurança”, vulgarmente denominados: “milicias”.

No filme, o Capitão Nascimento perde o cargo de comandante do Bope, porque um de seus subordinados executa uma ação não determinada, mas que a sociedade aprovara: a morte de presos rebelados em uma das cadeias da cidade: “Bangu 1”. Apesar das manchetes favoráveis ao resultado da operação, o Governador decide retirá-lo do grupo de elite, mas o transfere para a Secretaria de Segurança. Parecia promoção.

Na referida secretaria, Capitão Nascimento descobre que existe uma rede criminosa em funcionamento, visceralmente inserida no sistema de segurança do estado, e que compromete toda a credibilidade da política de enfretamento da criminalidade, do qual não escapa nem o governador. Pois é parceiro, a situação é terrível!

O enredo se desenvolve demonstrando os elos existente nesta rede, cujas prioridades evidentes são: poder e dinheiro! Segurança pública, interesse dos cidadãos, proteção dos mais vulneráveis, dignidade, ética, lei, dentre outros elementos republicanos, não representam verdadeiros objetivos, apenas disfarces para propiciar conquistas pessoais, que resultem em dinheiro, poder, dinheiro, poder e mais dinheiro, e mais poder…

Qual a saída para esta crônica disfunção política dos órgãos públicos, que mais parecem favorecer as práticas desviantes de seus agentes, que privilegiam a riqueza ilícita, a ganância pessoal, a mentira e o desprezo de todo um povo?

Pois é, neste cenário pós-moderno, de flagrante humilhação do Estado-Nação, as pessoas vão aceitar os palhaços, para permitirem o riso, já que até então os candidatos sérios fazem de tudo  para chorarmos, os heróis sem poderes serão mais raros (existem por coragem ou devaneio), os filhotes dos poderosos continuarão no poder, e o mercado vai até falar em privatização do Estado! Que coisa parceiro!

Aderlan Crespo