Quem mora na favela ou na periferia sabe a dificuldade de solicitar um carro pelo Uber, 99 Táxi ou outros aplicativos de transporte, para sair ou voltar para casa. “Infelizmente, a Uber não está disponível na sua área no momento”, essa é a mensagem padrão recebida quando uma região é considerada de risco. Se conseguimos um carro, ainda somos questionados: vai passar na favela? Precisa piscar o farol ou abrir a janela? Muitas vezes, só percebemos o inconveniente quando a nota no aplicativo abaixa, sem nenhum motivo aparente, provavelmente só pela corrida ter sido solicitada da favela.
É claro que entendemos o medo crescente desses motoristas, que é alimentado diariamente pela televisão e pelo jornal, mas nada justifica o preconceito pelo qual os moradores passam. Inúmeros casos de cancelamento de viagem, discriminação e desvio de trajeto (a favela tem uma geografia própria) são alertados por quem vive em comunidade.
Josué Fernandes, 31 anos, é Uber e morador do Complexo do Alemão. Trabalha no aplicativo há 1 ano e 4 meses. “A melhor parte de trabalhar dentro da comunidade é que, além de passageiros, as pessoas viram meus amigos. Meu número de passageiros aumentou”, explica Josué.
“O morador é make de favela”. Esse conceito de faz-tudo e a necessidade de se virar nos 30, apesar das dificuldades, já é uma característica de quem vive em um território marginalizado. Esse traço está presente sempre que alguma coisa é negada a nós. Nos reinventamos e hackeamos a forma de fazer. O serviço de Uber que roda a favela é um grande exemplo disso.
*Matéria para o Jornal A voz da Favela edição Agosto