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 Houve um tempo em que um reitor de uma universidade pública, frente a possibilidade de ter a Polícia Militar invadindo as instalações de sua instituição, declarou: “Policial aqui só entra se passar no Vestibular!”.

Infelizmente, esse perfil de reitor de universidade ligado à comunidade, defensor da educação pública de qualidade, que respeita a autonomia universitária, e que junto com  estudantes, técnicos administrativos e professores luta pela qualidade e zelo do nome da instituição parece que não existe mais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

         Vide os últimos casos que aconteceram na UERJ, nos últimos dois anos: cortes de verbas por parte do governo do estado do Rio de Janeiro tem deixado a universidade sem dinheiro para pagar professores contratados, sem realizar concurso para professores efetivos, deixando alunos sem aula em diversos cursos e campi.  Empresas terceirizadas de limpeza e manutenção não pagam salários de seus funcionários, deixando setores da antiga pérola acadêmica da zona norte parecendo um lixão de detritos.

         Pesquisas são cortadas, projetos são abandonados e a privatização de setores da UERJ, através de fundações e cursos pagos, é feita em silêncio, com a desculpa da falta de verba.

         Mas, um dos lados que parece estar mudando mais é a relação da UERJ e sua reitoria com a sua comunidade ao redor e as causas sociais da cidade. Esta sempre teve uma profunda ligação com os moradores da região da Tijuca, e suas favelas. Até porque está inserida na paisagem urbana, é passagem para o metrô, e trem. Além de com seus serviços e cursos, servir a quase 500 mil pessoas há alguns anos, entre usuários do Hospital Universitário Pedro Ernesto(HUPE), LICOM(curso de línguas para a comunidade), exames de DNA de graça, e muitos outros.  Mas com a falta de verbas, corte de projetos e recursos, o atendimento a comunidade tem diminuído drasticamente. A casa “cinza” de concreto assusta quem passa por lá, como outros prédios de universidades, que não atraem o povo, como no IFCS, da UFRJ, o qual a população não entra nem para usar o banheiro.

E a UERJ, onde tenho muito orgulho de ter estudado, também sempre foi solidário para com as causas sociais. Esteve presente, por exemplo, apoiando a população de Vigário geral, quando do Massacre causado por policiais da ”banda podre”, em 1993, e outros tantos.

         Mas, a atual reitoria parece ter um medo de movimento sociais incrível.      Por duas vezes adiantou o fim do semestre, devido a atos e seus participantes buscarem refúgio em suas paredes. E enfim, no dia 28 de maio deste ano, o reitor da UERJ se esmerou: deu ordem para que seus seguranças fiéis reprimissem estudantes da universidade, os quais  apoiavam moradores da favela que estavam sendo removida pelo PM,a  mando do prefeito Eduardo Paes, com a ação da Guarda Municipal e também da Polícia Militar. A remoção – como de habitual no Rio – foi extremamente violenta, atirando bombas de gás lacrimogêneo dentro das casas das pessoas e com violência física com cassetetes contra os moradores.

         Segundo o site Vírus Planetário, os estudantes da UERJ realizavam assembleia e, ao saberem do fato, foram para o local apoiar os moradores. A repressão da Polícia, com mais resistência dos estudantes, ficou ainda mais dura e todos correram para a UERJ para se refugiar.

         A polícia do lado de fora tacava bombas fazendo com que as pessoas entrassem na UERJ e do lado de dentro, os seguranças da universidade, a mando do Reitor Vieiralves, lançavam jatos de água contra as pessoas.

         Como resultado, houve quebra dos vidros da entrada da universidade, quando os seguranças impediam estudantes da UERJ e moradores da favela Metrô-Mangueira,  de se refugiar dentro do espaço que basicamente é deles.

         Algumas pessoas poderiam dizer que esse título deste pequeno artigo está errado ou exagerado. Que não foi o reitor que bateu ou agrediu os estudantes e moradores de favela, no caso acontecido ontem, dia 28. Mas o caso é que as responsabilidades dos atos tem que ser imputadas a quem os comete. Assim como o reitor não deixou os alunos e moradores da favela removida se refugiarem na UERJ, ele poderia muito bem ter dito como o seu antigo colega de cargo: “Policial aqui só entra se passar no Vestibular!”. Desta forma, não haveria quebra de vidros, o trânsito na cidade não teria dado um nó na volta do trabalho de milhares de trabalhadores para sua casa. Talvez até chamar sociólogos, assistentes sociais, engenheiros, arquitetos, e tantos outros profissionais da universidade, para pensar formas de cuidar de moradores que sofreram remoção violenta, traumas psicológicos e sofrimentos.

         Mas, ao optar pela violência contra estudantes e moradores de favela Metrô-Mangueira,(que fica próxima ao Maracanã, à UERJ e à Mangueira, e teve seu processo de remoção iniciado em 2012),  o reitor da UERJ preferiu o fim do diálogo, usando argumentos preconceituosos: “Foram chamados adolescentes que vivem nas ruas; membros da denominada ‘favela do metrô’, que estavam em litígio com a Prefeitura do Rio; e pessoas que ‘agem’ na passarela do metrô e no entorno do Maracanã”, disse o magnífico, segundo o jornal O Dia.

Além de colaborar com o show de horrores e agressão da PM do Rio, em fotos que irão percorrer o mundo, trazendo mais desonra e infâmia para os corredores da universidade, o qual diz em seu estatuto que seu maior patrimônio é o aluno da instituição. Mas estes alunos só tem visto falta de responsabilidade, de diálogo e má gestão no seu dia a dia.

         Os fatos falam por si: mais do que as fotos da entrada da UERJ quebrada. Está quebrada também a tradição de uma universidade solidária, comunitária, de qualidade e pública.

P.S:

Após publicar esse artigo, fico sabendo que a justiça proibiu novas demolições na Favela do Metrô.  E que caso a prefeitura descumpra a decisão judicial, será multada em R$ 20 mil por imóvel derrubado.