“Se o campo não planta, a cidade não janta” (Vozes de trabalhadores rurais)
Aconteceu na ultima quinta e sexta-feira (12 e 13), 1º Encontro de Rede de Plantas Alimentícias não Convencionais na Bahia, no auditório do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
O evento teve como objetivo de reunir pesquisadores, agricultores, educadores, agentes comunitários de comunicação, cozinheiros, povos tradicionais e profissionais das diferentes áreas: sociologia, botânica, gastronomia, nutrição, agronomia, agroecologia, antropologia, para promover o cultivo e consumo destas plantas.
Durante o encontro ocorreram mesas redondas, debates, visitas técnicas, oficinas gastronômicas e troca de mudas e sementes.
Além disso, houve oferta de lanches panc para os participantes e o relançamento do livro “Pedagogia do Terreiro: experiências da primeira escola de religião e cultura de matriz africana do Baixo Sul da Bahia (Escola Caxuté)”, autoria de Maria Balbina dos Santos (Mam ´Etu Kafurengá). Na capital baiana, o povo de santo tem como uma das referências para aquisição de folhas e especiarias, a Feira de São Joaquim.
Em um dos stands do evento, a empresa “Sucuri em Plumas” apresentou “néctar do cacau”, considerado energético e rico em pectina e vitamina C.
Pesquisadores afirmam que “o termo panc foi utilizado pela primeira vez pelo biólogo Valdely Kinupp, em 2007, a partir da defesa da tese de doutorado, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)”.
PANC- a exemplo do quiabo, maxixe e inhame foram trazidos do continente africano para o Brasil no período colonial. A pimenta-do-reino, originária da Ásia. Rúcula e dente de leão são oriundos da Europa, enquanto as folhas de chaya vinda do México e a taioba, mangarito e ora-pro-nobis são nativas do Brasil.
Embora existam diversas espécies de plantas alimentícias, acredita-se que poucas delas são consumidas e comercializadas. Essas plantas são frutos, folhas, sementes, castanhas, cereais ou raízes sendo que os povos tradicionais sempre consumiram. Panc também são nutritivas, saborosas e de fácil cultivo. A importância delas está relacionada à segurança alimentar e nutricional, assim como, a agrobiodiversidade, economia, gastronomia e cultura.
Do ponto de vista gastronômico, panc é tida como uma questão de segurança alimentar disponível para pessoas em situação de vulnerabilidade social ou não. Neste contexto, segundo a pesquisadora Emanuela Terra Nova, 39 anos, moradora de Feira de Santana (Bahia), “Panc pode ser considerada uma prática sustentável por se tratar de uma ferramenta de segurança alimentar e nutricional que possibilita potencializar a educação do campo”.
É comum encontrar no norte da Bahia, o melão-coalhada, enquanto no Recôncavo, a araruta, na Chapada Diamantina, a palma forragem. Mas de acordo com pesquisadores “o desafio é criar banco de sementes destas plantas”.
Rúcula é diferente de agrião, dessa forma, não se deve sair colhendo qualquer planta sem conhecimento sobre ela, precisa perguntar para alguém que conheça a planta para não sofrer intoxicação ou outro dano à saúde. É imprescindível realizar a higienização dela antes de consumi-la.
Outras plantas comestíveis: cana de macaco, taioba, língua de vaca, licuri, mandacaru, quixabeira, juá, umbu, umburana, maracujá do mato, andu, feijão guandu, flor do bodin, mangarito, picão preto, semente de abóbora, coração de bananeira, aspargo, castanha do Maranhão, flor de sabugueiro, hibisco, mamão verde, semente do manjericão, janbu, moringa e muitas outras.
Para o popularizador de moringa oleífera, Cláudio Veiga, 44 anos, natural de São Paulo, garante que “moringa é um alimento sustentável e nutritivo”.
O semiárido baiano, a partir das transformações climáticas e tecnológicas, tem-se observado a caatinga não preservada, além disso, a expansão das torres para captação de energia eólica, ampliação das mineradoras e a falta de chuva também têm corroborado para a degradação da mata nativa.
Pesquisadores defendem “o direito a patentes e commoditieis de panc; recaatingar o território degradado; agregar as novas tecnologias a favor da agroecologia; assistência técnica e instituir cozinhas comunitárias (cozinhas verdes)”.
Espera-se ainda, maior adesão as panc pela sua biodiversidade e por possibilitar um hábito alimentar saudável e uma vida sustentável. Há necessidade de cultivar e preparar tais alimentos para que as pessoas experimentem e propaguem as suas experiências degustativas.
OVO COM ORA-PRO-NOBIS
Ingredientes: 1 xícara de ora-pro-nobis; 4 ovos; ½ cebola picada; 1 dente de alho; 1 colher de sopa de manteiga; e sal ao gosto.
Modo de preparo: numa frigideira, dourar o alho e a cebola na manteiga. Em seguida refolgar a ora-pro-nobis até murchar um pouco. Colocar os ovos e sal, cozinhar a gosto (Receita da Rede Panc).
Acesse o blog para mais informação: https://www.moringa.blog.br/