Já pensou chegar a casa no fim de uma jornada de trabalho, cansado e suado, em pleno verão, e não ter um pingo de água no chuveiro? Já pensou acordar na manhã seguinte e ter que usar uma água mineral para escovar os dentes e lavar o rosto… e ter que se organizar para tomar banho no trabalho ou na casa de um amigo?
Quem mora no Rio de Janeiro, sem usufruir da estrutura de um condomínio de alto nível, pode ter passado por isso algumas vezes na vida. Só que no alto da favela, se trata de uma situação bastante comum, que chega a acontecer várias vezes por mês. Sim, por mês. Deixando a comunidade sem água, sem aviso prévio, durante algumas horas ou até uma semana. Agora, imagina o cotidiano enfrentado, sem descarga no banheiro, sem poder lavar roupas e acumulando louça suja. E ainda tendo que manter a dignidade no mundo afora. Imagina a vida de quem tem filhos pequenos. Imagina os comércios, bares e lanchonetes…
O acesso à água é direito fundamental, que, aliás, ainda faltou ser reconhecido pela Constituição Brasileira. E num país que tem uma das maiores reservas de água do mundo, ficaria até difícil aceitar a ideia de que a população tenha que pagar por ela. No entanto, a maioria das favelas e comunidades vivem até hoje na precariedade de ligações irregulares à rede estadual e provavelmente serão as primeiras vítimas da grave crise hídrica anunciada para os próximos anos.
*Matéria publicada no jornal A Voz da Favela de novembro de 2018