Quando o diretor e fundador da Agência de Notícias das Favelas André Fernandes me convidou para ser colaborador e colunista tanto do portal da ANF como do Jornal A Voz da Favela, fiquei muito feliz com o chamamento. Sempre gostei de escrever e apesar de me considerar um “escrevinhador de rede social”, aceitei o desafio para ser, além de colaborador, colunista semanal.
Minha intenção era para abordar outros temas fora do eixo de violência, pobreza e miséria. Tentar abordar a vida na favela como algo também lúdico e poético. A costureira do Jacarezinho. A tia do bolo do Santa Marta que virou microempresária. O neto do Seu José que conseguiu uma bolsa e agora é bailarino do Bolshoi e outras histórias nesse teor. Sobre quantas coisas legais já escrevi nessa coluna? Falamos de cultura popular, cultura urbana, moda, agenda cultural, comportamento…
Porém, é inevitável não abordar o tema que mais afeta a vida de todos os moradores de favelas e periferias. A chamada guerra às drogas vem dizimando a vida de moradores, bandidos e policiais militares no Estado do Rio de Janeiro.
Semana passada, vimos o Bope invadindo o Jacarezinho travestidos de terroristas árabes e uma ação desastrosa do Core (Coordenadoria de Operações de Recursos especiais, que nada mais é que o Bope da polícia civil) dias depois, que terminou com uma criança morta. No local, havia uma festa para crianças quando os policiais entraram atirando para todos os lados em represália à morte de um policial por traficantes no dia anterior.
Às vezes, me sinto culpado por falar em temas mais leves como se isso fosse uma forma de mascarar o que acontece nesses locais. Como falar de um baile soul frente a morte de uma criança? Como exaltar o bloco de maracatu da comunidade se o Estado massacra diariamente o povo favelado, se negando a prestar os serviços públicos mais primários?
O favelado já não tem saneamento básico, as escolas públicas são fechadas diariamente por causa da ação da polícia, seja ela civil ou militar. Assistência médica? Nem pensar. E no meio disso tudo, o pior: a caça ao povo preto, pobre e favelado.
Espero estar aqui para falar das coisas positivas da favela e para denunciar a ação do Estado por mais um ano para todos vocês.