Em seu primeiro aniversário de governo de extrema direita, Javier Milei comemora com uma série de medidas que, longe de trazer alívio à maioria dos trabalhadores, aprofundam e agravam a crise social que afeta o país. O balanço dificilmente poderia ser mais sombrio. Ao contrário do que divulga a mídia corporativa aliada aos grandes capitais, Milei conduziu a Argentina a um cenário de desemprego e aumento descontrolado da população abaixo da linha da pobreza. 

Mas o país jamais se manteve em silêncio. O melhor exemplo está no relevante movimento das Madres da Praça de Maio, que há 48 anos tem intensa atuação em defesa dos direitos humanos e na busca dos 30 mil desaparecidos políticos na ditadura militar (1976-1983).  Aqui também a mídia corporativa cumpriu o seu papel, ignorando as intensas e pacíficas paralizações e manifestações de ruas nos últimos doze meses. Esses protestos levaram o governante a adotar um violento aparelho de repressão policial denominado de   protocolo “anti piquete”, criado pela Ministra da Segurança Patricia Bulrich para reprimir as manifestações populares nas ruas de Buenos Aires e em todo o país. O saldo são dezenas de populares presos e feridos. Jornalistas foram agredidos, assim como agentes da saúde que cui davam dos manifestantes. 

O momento mais agressivo ocorreu em 4 de setembro durante a manifestação dos aposentados nas imediações do Congresso, que  levou a ministra ser processada pelo delito de abuso de autoridade e deveres de funcionário público. O caso da menina de 10 anos que foi ferida em meio aos protestos por um policial que a pulverizou com spray de pimenta gerou forte repúdio social.

Pobreza, uma realidade devastadora

A lista de horrores produzidos ao longo deste primeiro ano de governo é interminável. A situação de pobreza na Argentina atingiu níveis alarmantes, com um aumento chocante de 222,7% no último ano, segundo dados fornecidos pelo Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (CELAG). Esses números refletem uma realidade devastadora. 

A pobreza é evidente nas ruas, nas casas, nos supermercados, nas fábricas, nas lojas e nas escolas, deixando claro o sofrimento e a precariedade em que vive grande parte da população. Com rendimentos cada vez mais reduzidos, as famílias têm de gastar muito mais do que antes em água, gás, eletricidade e transportes. Quem tiver o infortúnio de adoecer terá grandes dificuldades para ser atendido no hospital público.

 O CELAG é uma instituição dedicada à análise de fenômenos políticos, econômicos e sociais nos países da América Latina e do Caribe, cujos dados científicos são ignorados nas linhas editoriais e nas reportagens da mídia corporativa.  Fundada em 2014, tem como diretor executivo o economista e acadêmico Alfredo Serrano Mancilla. É um dos principais centros de investigação da região em termos de análise geopolítica, estudos demográficos e investigação académica.  

Segundo relatórios da Universidade Católica Argentina (UCA), sob o governo Milei, a classe média mal sobrevive enquanto a classe pobre se torna maioria, evidenciando a profunda desigualdade e a falta de políticas eficazes para combater a pobreza. É vergonhoso e doloroso observar como 63% das crianças e adolescentes argentinos são classificados como pobres, com preocupantes 16,2% em situação de indigência. 

O estudo realizado pela UCA revela números preocupantes que mostram uma deterioração significativa nas condições de vida dos jovens argentinos. Estas são as taxas mais elevadas registadas desde 2010, evidenciando a falta de medidas fortes para proteger as gerações futuras da pobreza e da marginalidade



          Desemprego e especulação financeira

Milei comemorou seu primeiro ano de governo enquanto conseguia encobrir sua mais recente medida de crueldade estatal: a retirada de medicamentos de milhões de aposentados.  200 mil empregos foram destruídos. Os salários estão 6 pontos abaixo do nível de novembro do ano passado e, especialmente, os do setor público afundaram 16%. Beneficiaram da forte desvalorização de dezembro passado, das tarifas elevadas, da desregulamentação dos preços e da especulação financeira.
O acordo de Milei com o FMI não foi dócil e sem resistência como querem que acreditemos. Houve mobilizações massivas, greves nacionais, um histórico movimento universitário e estudantil que percorreu todo o país, lutas muito importantes como a saúde, o petróleo, a aeronáutica, transportes, os dos aposentados. O objetivo estratégico do governo é reestruturar o país ao serviço do capital financeiro internacional, entregar bens comuns naturais e generalizar a insegurança trabalhista.

 O governo investiu em medidas predatórias. Ele eliminou mais de 30 mil empregos no Estado desde que assumiu o cargo, ameaça eliminar mais cargos no Ministério da Justiça e a tensão cresce devido ao vencimento de 50 mil contratos no final de 2024. E reduziu o dinheiro atribuído às pensões, à educação, à saúde, à ciência, à cultura e ao desenvolvimento social em até 74%. Os mercados celebraram imediatamente o excedente fiscal. 

 O outro lado tem sido cinco milhões de novos pobres e uma recessão económica. Estas decisões, justificadas como medidas de poupança, deixam milhares de famílias sem meios de subsistência num contexto de aumento de preços e desemprego. Como parte de seu plano “motosserra” para cortar despesas estatais, Milei liberou tarifas de trem e ônibus e cortou subsídios para o transporte público, uma medida que desferiu um novo golpe no poder de compra de milhões de usuários que também carecem de assistência social na Argentina. Milei defende uma agenda negacionista das alterações climáticas e da memória histórica das atrocidades cometidas pela ditadura militar, da igualdade de género ou da justiça social.

 A política económica agressiva de Milei teve impacto nas reformas, nos salários e nas pequenas e médias empresas, fazendo com que a pobreza disparasse para mais de 50%. Além disso, o Produto Interno Bruto contraiu-se com uma queda projetada entre 2,5% e 3,2% para este ano, enquanto setores-chave como a indústria, a construção e o comércio enfrentam dificuldades significativas desde a sua chegada à Casa Rosada.

           É necessário um verdadeiro plano de luta para enfrentar o saque e a motosserra que o Governo, as elites empresariais e o FMI procuram aprofundar, e para evitar uma nova catástrofe social, impondo um tipo diferente de solução com a mais ampla mobilização popular.