Eu rasguei as folhas deste poema
por três vezes antes de terminar.
Posiciono a câmera.
Um, dois, três, ação.
Eu não esperava me encontrar nesta situação.
Escrevo sobre o mundo, a democracia de estimação.
Sou a voz do inaudível;
a visão dos cegos que não pretendem ver;
a busca da razão.
Procuro em palavras, tocar seu coração.
Já falei besteira, me retratei.
Já dormi com a mente orgulhosa do bem que prestei.
A liberdade já não se encontra em mim.
Mexi com valores de filhos da lei.
Eles têm medo que eu toque nas verdades do juiz,
nas astúcias do prefeito, na indústria do presidente perfeito.
Meu jornal busca a verdade a qualquer preço.
Desprezo a corrupção, sou seu oponente feroz.
Nas matérias, um ferrenho algoz.
Nas reportagens, um buscador de detalhes.
Fiz inimigos em mais da metade.
Ah… Preciso de um gole de café.
Na borra, uma substância indigesta.
Há algo de diferente, minha garganta fecha.
Estampem na manchete em meu luto:
“Morre jornalista em causa do mundo.”
Nomeiem rua com meu nome
e o escrevam no chão.
Um brinde à liberdade de expre…
Israel Sant’Anna Esteves