Um festival que encantaria a cidade toda

Que belíssimo festival de música! Quanta beleza, espontaneidade e carisma! Os grupos sucediam-se no palco. As letras falavam de amor ou de angústias de quem vive em nossa cidade. A plateia era febril, alegre, intensa, dividida em torcidas, mas harmônica. Não houve traço de desavença ou desrespeito. Só riso, só entusiasmo.

Olhei muito para os rostos dos artistas que subiram ao palco. Exalavam leveza, demonstravam uma segurança doce. Eram espontâneos, vivos, sinceros e convincentes. Alguns tinham 9 anos, outros 11, alguns 13, outros 16. Por aí. Eles vinham de todas as partes da cidade, dos subúrbios, das favelas, das Zonas Norte, Sul, Centro e Oeste.

Tudo isso presenciei na tarde de terça-feira, no Méier, mais precisamente no palco do Centro Cultural João Nogueira, o Imperator. Era o 29º FECEM – Festival da Canção das Escolas Municipais do Rio de Janeiro. Vocês tinham que estar lá pra ver a força, a graça e o encanto da juventude linda desta sociedade maltratada que construímos. Juventude das favelas. Juventude dos subúrbios. Juventude rica de potência, inventividade e vigor. Eles mereciam adultos melhores e mais coletivizados.

O Rio de Janeiro possui aproximadamente 1.500 escolas municipais, divididas em 11 Coordenadorias Regionais de Educação (CREs). Cada CRE organiza o seu Festival. De cada festival regional, uma canção é selecionada para disputar a grande final, que este ano aconteceu no Imperator. Os professores de música da rede conduzem o processo com alunos. As letras são todas originais, criadas por eles. No final, muita gente é premiada, entre melhores canções e destaques. Todos saem radiantes. Todos se aplaudem e comemoram.

Depois da apresentação dos 11 grupos, enquanto os jurados deliberavam, subiu ao palco a cantora Roberta Espinosa para um show curto. E olha… Vou te dizer, foi a outra alegria da tarde. Fiquei encantado vendo essa cantora da noite, da Lapa, fazer uma apresentação tão solar e radiante para a meninada de nossas escolas. Além da voz, da presença e do repertório, a desenvoltura dela com a molecada foi incrível, uma interação carinhosa, alegre, sincera. Botou todo mundo pra dançar, distribuiu balões coloridos, desceu, fez trenzinho, subiu a molecada toda pro palco e ainda frisou: “Esse festival aqui tinha que estar passando no telão do Rock in Rio, pra todo mundo ver essa beleza toda!”.

Que tarde incrível eu passei no Méier.

Pra fechar a coluna de hoje, peço licença aos autores Thomas Salgueiro Martins, Gleiciane Santos Silva e Yasmin de Jesus Lacerda, da Escola Municipal Adalgisa Monteiro, de Rio das Pedras, para reproduzir aqui a letra que mais me comoveu e que ficou em 2º lugar na disputa. Ela é metade lamento e metade esperança. Dor e esperança. Tipo nós, nesse momento.

 

“Bala Perdida

Dói
Como dói
Sim
Triste fim
Essa bala perdida
Levou mais uma vida
Que o mistério da morte silenciou

Aconteceu
Gente correu
Muito barulho no ar
Anoiteceu
Alguém morreu
Mais uma vez vou chorar
Quando será
Que vai cessar
Esse tormento sem fim?
E quem irá
Nos preservar?
Não pode mais ser assim!”

 

Vocês tinham que ver a menina que interpretou essa canção. Devia ter 10 ou 11 anos e exalava verdade e ternura. A segunda parte trazia esperança:

 

“Aconteceu
Gente nasceu
Há novo clima no ar
Amanheceu
Já renasceu
Um novo sol vai raiar
Criança está
Livre a brincar
Nada precisa temer
Céu brilhará
Há de chegar
Um novo alvorecer”

 

Ano que vem é a 30ª edição do FECEM. Quer uma dica? Corre atrás de um ingresso, amigo leitor. Não perca. Eu fui!