Corrupção, violações dos direitos básicos do cidadão, mortes diárias que só aumentam as estatísticas, desvios de verbas da saúde, educação e segurança, desvio de conduta e moral de vários servidores públicos, caos na mídia e declínio intelectual, perda cultural proposital, obras faraônicas sendo abandonadas por falta de verbas, início de uma coalizão entre os que governam e os que financiam as falcatruas, alianças do opressor com alguns dos que vivem entre os oprimidos. Cada vez mais, estamos vendo um mar de sangue nos envolvendo. Como mostrava, de uma forma meio profética, a abertura de certa novela global de tempos atrás, esse mar de sangue não escolhe a quem vai engolir. A sua força é descomunal e muito devastadora. Pasmem: esta força é também controlada por alguém.
Eu me vejo no alto de uma colina, olhando e analisando, vendo que, mesmo depois de uma barragem que se rompeu e matou a tantos, há mais outras barragens com fendas enormes e que podem fazer novos estragos. Peguei o megafone e anunciei tal qual um arauto para que todos subam para cá, para a colina, mas percebo que não conseguem me ouvir. Todos estão muito ocupados com os seus afazeres, envolvidos em redes tendenciosas, caprichos e deleites. Gritei mais uma vez: “Fujam para a colina, aqui estaremos em segurança!”.
O poderio é muito forte, pois ele traga tudo a sua frente; de simples galhos a grandes e frondosas copas de árvores, basta estar no caminho. Não há como fugir dessa devastação. Esse sangue urge e deixa desaparecidos, afronta, contamina a natureza, extingue espécies. Onde havia água limpa e potável esse sangue transforma em um lugar insalubre e sem cor, derrubando vidas e muitas histórias, trazendo muita tristeza e dor.
O nosso momento hoje é de afogamento nesse sangue. O que estamos assistindo hoje não só pelas telas dos smartphones, mas também no dia a dia, é uma imersão nesse triste momento que estamos vivendo, sendo tragados pelos efeitos do tsunami vermelho que nos permeia.
A minha pergunta é a minha maior dúvida: onde estaremos seguros quando esse mar de sangue passar perto de onde estamos? Como poderemos escapar da sua fúria e letalidade? Existe uma escapatória para livrar aos que querem sobreviver? Ou simplesmente não tem como, pois ele chega sem aviso prévio?
O Rio de Janeiro está sangrando, e tanto no asfalto quanto no morro a situação é extremamente terrível. Estamos em guerra aqui, pessoas estão sendo assassinadas e a culpa é deste Estado corrupto, que extermina em massa a população. Nós moradores das Favelas estamos na mira desse plano maléfico. A prisão de dois ex governadores por corrupção é uma prova cabal de que tudo isso tem os dedos sujos dos governantes e suas medidas extremamente absurdas.
Estamos pedindo socorro. O rio de sangue não deixa de jorrar na cidade dita maravilhosa. É preciso parar.