Certo dia fui ao Galpão Bela Maré. Um projeto belíssimo!
Favela é potência! No entanto, gostaria de lembrar que Tabajaras, Alemão, entre outras favelas do estado do Rio, estão sem água.
Lembro-me do saudoso Marcelo Yuka (fundador da banda O Rappa e ativista político), tempos atrás, quando sugeriu que alguns abastados adotassem uma favela – cada três grandes empresários, por exemplo. Ele foi ridicularizado numa roda de bate-papo informal. Eu fico pensando… o Brasil é Agro, é Pop e coisa e tal… Precisaria ser também Brasil solidário com quem mais precisa. Ajuda humanitária nesse momento se faz mais do que necessário.
Não quero entrar em questões que ferem o papel do Serviço Social. Esses também são guerreiros, pois estão na linha de frente. Mas, por favor, não me venha com papo de empreendedorismo e nem meritocracia na altura desse campeonato. O Governo deve ter respostas, no campo econômico e no âmbito da saúde pública. Mas, afinal, o Brasil vai quebrar? O Brasil já quebrou faz tempo. Há quantas décadas a população da periferia vem sendo quebrada e esquecida em nome de outros interesses? O Brasil real vive quebrado e sendo quebrado pelo Estado, pela polícia, pelas drogas, pelo racismo, pela miséria, enfim, pela falta de oportunidades.
Ainda assim, a potência da favela, à qual me referi no início, mostra sua grande proeza, pois evidencia sua capacidade de se reinventar. Por incrível que pareça, o maior índice de suicídio não é na classe dos favelados, mas nas classes média e média alta. Não minimizo, com isso, o sofrimento de ninguém. Antes, ressalto o potencial de resistência de quem, mesmo tendo todos os motivos para desistir, resolve levantar e sacudir a poeira em meio ao abandono estatal. Quanto ao atual contexto de crise, devemos, isso sim, ter cautela, pois o amor, a prevenção e o cuidado vencerão o medo. Para tanto, é necessário partilhar para salvar. Infelizmente, não é o que vemos por parte de algumas autoridades e daqueles que detém o monopólio financeiro. Até mesmo na igreja, segundo um cientista da religião: “O rico vai à igreja pra dizer ‘Deus continue me ajudando!’, mas o pobre vai à igreja pra dizer ‘Senhor, lembra de mim!’. Comunhão é compartilhar.
Isso vai passar! Alguém já bateu uma laje? É simples! A logística é a mesma: grandes empresas e grandes gestores. Todos trabalham num sistema de fila indiana. No fim das contas, Sísifo somos todos nós!
* Galpão Bela Maré, projeto cultural no Complexo de Favelas da Maré, Zona Norte da capital carioca, que reúne arte, exposição, leitura e debates.