Antes da inauguração do Sambódromo, eu já desfilava na Av. Presidente Vargas. Quando nem havia arquibancada. Ainda assim, o espetáculo estava garantido mesmo na simplicidade dos poucos brilhos existentes; apesar das fantasias simples e dos pequenos carros alegóricos. Os desfiles eram perfeitos. Todas as dificuldades eram superadas pelos caprichos das bordadeiras, costureiras e sapateiros das favelas.
Tudo era tratado com muita dedicação, porque estava em jogo uma disputa tradicional entre as concorrentes. A Portela com sua imponente Águia com a maiúsculo dizia que a Estação Primeira de Mangueira usava cetim, um tecido barato na confecção de suas fantasias. Isso acontecia só para tentar desqualificar a sua rival direta. A Mangueira respondia: “Pudera, Madureira tem o maior comércio popular do Rio de Janeiro e aí não precisam comprar como nós que com muito sacrifício sempre conseguimos colocar nossa Escola perfeita mesmo com tecidos baratos”.
Quando terminava os desfiles, o público sentia saudades, isto porquê, não faltou brilho nas apresentações orgulhosamente defendida pelos primeiros grandes sambistas. Sempre foi lindo de ver.
Mas neste sábado histórico, dia 6 de fevereiro, vai ficar uma mancha trágica na passarela do samba. No último dia de desfiles do grupo de acesso, a Escola de Samba Caprichosos de Pilares proporcionou aos olhos do público, momentos difíceis. Quem não se lembra daquele desfile maravilhoso da Caprichosos onde o samba dizia, leva peixe Lili já são meio dia e de bolsa fazia não pode sair. O vendedor de bananas grita: “Moça bonita aqui não paga. Pisa na casca de banana escorrega, aqui não paga, mas também não leva!
Pois é carros mal acabados e que congestionaram a pista, sem luzes, sem brilhos sem nada, fora as fantasias incompletas. Muitos componentes desfilando com lágrimas nos olhos querendo acreditar que aquelas cenas não estavam acontecendo. Mas infelizmente era tudo real.
Até aquele momento a séria candidata ao rebaixamento era a Acadêmicos da Rocinha. Esta foi salva podemos dizer que aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, isto porque a Caprichos de Pilares foi a penúltima Escola a desfilar.
Fica aqui o lamento de todos os sambistas presentes que assistiram aquele triste e trágico desfile da Caprichosos que naquela noite não conseguiu caprichar.