Passadas duas semanas do início da “guerra” no Jacarezinho, a atenção da imprensa não é a mesma. Nos últimos dias, não houve mortes nem prisões significativas. A poeira vai baixando e a vida dos moradores vai voltando ao normal. Passado esse tempo, pergunto a todos mais uma vez: qual é o saldo dessa grande mobilização policial militar, em que inocentes morreram, milhares de crianças ficaram sem aulas por quase uma semana e até agora a polícia do Rio de Janeiro não sabe sequer quem matou o policial da Core (Coordenadoria de Operações de Recursos Especiais), pivô do massacre na comunidade?
Na mesma semana em que o centésimo policial militar foi assassinado no Rio de Janeiro, ficam também os questionamentos sobre a eficácia dessa política de “guerra as drogas”. Uma sociedade moderna não pode se acomodar e deixar que pessoas continuem se matando por uma possível sensação de segurança. A classe média comprou a ideia do governo anterior de que as UPPs seriam a resolução do problema da violência do Rio de Janeiro. A imprensa fez coro e, em vez de investigar a sério as denúncias de suborno e violação de direitos humanos, preferiu se omitir e exaltar os poucos resultados positivos.
Especialistas em segurança e líderes das comunidades ocupadas alertavam desde o início que, caso a ação se desse somente pelo âmbito policial, fracassaria em questão de tempo. Sugeriram que outras coisas fossem implementadas, como ações socioeducativas, culturais e de cidadania. Porém, o governo preferiu deixar a coisa somente na questão de segurança. Deu no que deu.
Como se explica que, antes das UPPs, não morriam tantos policiais como agora? De que maneira algumas favelas possuem verdadeiros arsenais, que raramente são apreendidos e exibidos pela imprensa? Será que tem algo a ver com o aumento dos autos de resistência?
Semanas atrás, foi o Jacarezinho. Essa semana pode ser em outra favela da cidade. Regiões como Santa Cruz e Campo Grande também têm vivido vários confrontos entre milicianos, traficantes e policiais. E lá, quando morre alguém, dificilmente chega ao nosso conhecimento. Rezemos pela proteção das pessoas dessas comunidades. Essa é uma guerra sem fim.