A primeira vez que tive contato com a Marielle foi no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), ao vê-la compor uma mesa de mulheres negras debatendo sociedade, religião e racismo. Foi um daqueles dias em que você volta para a casa pensando: “ainda bem que eu escolhi estar aqui hoje”. Ouvir mulheres expondo seu conhecimento é sempre uma atividade gostosa, sobretudo se for negra e favelada.
Daquele momento em diante acompanhei o mais próximo possível sua militância. A sua força e representatividade me encorajava. Faz você pensar, “se ela, com todas as dificuldades de ser uma mulher negra, mãe, favelada em uma sociedade machista, classista e racista, conseguiu vencer todas essas barreiras e chegar aqui, eu, enquanto homem preenchido de privilégios, tenho que conseguir construir mais.”
Lembro-me de acompanhar o resultado das eleições de 2016 simultaneamente em um aplicativo de celular na casa de uns amigos, quando ela – a candidata em quem votei e fiz campanha informal – despontou nas cabeças. Foi uma mistura de surpresa e alegria: “que foda! Como é possível”. Foi um momento mágico. Lembro que eu falava aos amigos favelados não eleitores de Marielle, que ela representava uma nova forma de fazer política na favela, um novo momento, longe da política do pão e circo, das maquiagens com ruas asfaltadas e troca de lâmpadas, uma política real, que mudaria e salvaria vidas. Certamente salvou muitas, pena que não a sua.
A vida se foi, mas os sonhos e esperanças permanecem vivos em nós, eleitores ou não, mas que acreditam na construção de um mundo melhor. Como dito por Getúlio Vargas: “saio da vida para entrar na história”. Mais do que nunca, é necessário que a política nas favelas cariocas se divida entre antes e após Marielle Franco. Marielle, presente!