Uma questão de cor

Imagem: Reprodução Internet.

Recentemente assisti a um filme que me fez refletir acerca das questões de representatividade negra e como elas podem passar despercebidas muitas vezes. O filme que me suscitou essa ideia de representatividade negra está disponível no Youtube e pode ser assistido gratuitamente. Cores e Botas transporta seu público para a década de 80, onde somos tomados pelas cores mega coloridas e exageradas que estão presentes nas casas, na televisão, e principalmente nas roupas.

A família representada no curta metragem lembra muito aquelas de comercial de margarina. A maior diferença se dá por conta da cor e do status social que todos possuem, pois, a família é negra e em nada se assemelha ao que vemos na televisão hoje. Aliás, a televisão é o maior motor de toda essa trama, e é a ferramenta que ajuda a manter o sonho e a ilusão de Joana, filha mais nova da família com pai, mãe e irmão mais velho. Joana, assim como muitas meninas da época, assiste televisão e é fã da Xuxa, chegando ao ponto de colocar papel crepom amarelo no cabelo para tentar se assemelhar com as paquitas brancas e loiras da apresentadora.

Em um determinado momento, a escola da menina oferece um concurso onde aquela que fizer a melhor apresentação ao estilo da loira, ganhará a posição de paquita. Joana, empolgada, logo começa a conversar com suas amigas e perguntar se elas estão treinando para a competição, e muitos comentários deixam claro o racismo presente. Uma das colegas de Joana pergunta se a mãe dela tinha deixado ela fazer o teste, sendo que ela nem parece ser uma paquita. A professora que administra a competição parece espantada quando a menina resolve participar, e pergunta se ela também quer ser paquita, afirmando que se ela (Joana) fosse paquita, seria uma paquita “exótica”.

Na competição, todas as demais meninas se preparam para sua apresentação, mas nenhuma brilha mais que Joana, afinal, ela estava com a roupa de paquita, sabia a letra da música e tinha toda a coreografia na cabeça, no entanto, ao fim da seleção, a menina descobre que ela não passou. Os pais da menina a presenteiam com um disco da rainha dos baixinhos, mas são os filhos que entendem que o problema não está na sorte, mas na cor. O filho afirma para os pais “parece que vocês não percebem, a gente não é assim”, afirmando que por mais que eles tivessem uma situação econômica elevada, eles não eram brancos.

O filme também coloca sob perspectiva o racismo que todo brasileiro carrega e transporta, devido a influência que sofremos através das séries e filmes de televisão aberta, onde a mulher negra é sempre a empregada e o lugar da família negra é de subalternidade ou secundarizarão em qualquer trama. No final, Joana, por ela mesma, se desfaz de toda aquela falsa fantasia, alimentada pela televisão, e descobre, na escola mesmo, que o mundo pode ser mais cruel do que imaginamos. Rodeados pelo racismo, a família parece conseguir espaço na sociedade pela sua condição socioeconômica, que legitima certos direitos, que os negros podem ou devem ocupar.

 

Referências Bibliográficas

VICENTE, Juliana. Cores e Botas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Ll8EYEygU0o>. Acesso em: 29 de janeiro de 2019.