O presidente eleito está a praticamente dois meses da posse, mas a lua de mel com seu eleitorado promete ser sonho de uma noite de verão. Isso se chegar mesmo a acontecer, porque as reações às pretensões anunciadas na imprensa têm sido as piores. As pessoas depositaram na urna eletrônica a certeza de que o candidato representa o fim do ciclo petista do qual Temer é ainda remanescente como o vice conspirador sobre quem pesam acusações muito piores do que as que recaíam sobre Dilma. Aos olhos de muitos, o “Capitão Brasil” devolveria o país aos trilhos da honestidade no trato da coisa pública, às virtudes da família brasileira, à virilidade do macho, à inocência de nossas crianças e ao viço da adolescência. Num arroubo de sinceridade, chegou a dizer que levaria o Brasil de volta ao que era há meio século, e boa parte de seus eleitores entendeu que viveria um tempo de fausto e alegria – bom para todos!
Entre os projetos que causam mais repulsa dos eleitores, como se percebe de mensagens no whatsapp nesta semana, está disparado na ponta a indicação de políticos mais sujos que pau de galinheiro para o primeiro escalão. Um deputado da lista da Odebretch será todo-poderoso no palácio e outro corrupto, condenado a quatro anos, dará expediente no ministério de dia e dormirá na penitenciária. O eleitor Fauze Abdallah registrou toda sua indignação bem no estilo Bolsonaro: “Oh, seu porra! A gente não te elegeu pra você colocar corrupto como ministro. Cadeia pro Lorenzoni, porra!”. Lou, possivelmente eleitora e mais delicada no linguajar, também ficou preocupada: “Alberto Fraga vai ser seu ministro? Um condenado por corrupção? Diz que é mentira, porque eu votei no senhor e não quero passar vergonha”.
A fusão dos ministérios da Agricultura com o Meio Ambiente é outro anúncio que desagrada muito eleitores como Tadeu Braga: “Eu votei no Bolsonaro. No entanto, leigo sabe que essa junção de meio ambiente com agricultura vai dar merda”. Rodrigo Mendes, provável colega de farda, foi bem respeitoso: “Capitão, votei no senhor com muito orgulho, mas não concordo de maneira alguma com você unir Ministério do Meio Ambiente/Ministério da Agricultura. É um tiro no pé, só vai agradar aos madeireiros e grandes fazendeiros que já estão com o rabo cheio de dinheiro. Por favor, pense direito”. Em tom meloso, Juliana Oliveira apela: “Presidente, por favor pense com carinho essa fusão do Ministério da Agricultura e do Meio Ambiente. Vá com calma para não acabar prejudicando nossos recursos naturais, pois são muito valiosos para todos nós e precisam ser bem cuidados”.
As reações mostram uma carga de ingenuidade muito forte. Cabeça feita pela grande imprensa que reverberou tudo da Lava Jato nos desde 2014, o eleitor acreditou que a corrupção era um fenômeno petista, exclusivo, se atingiu um ou outro tucano ou de qualquer partido foi por culpa do PT corruptor. Não capta a trama completa, dos interesses políticos domésticos aos econômicos internacionais. Assim, a máscara cai mais depressa do que se esperava e traz à luz a verdadeira face do bolsonarismo, com Onix Lorenzoni (o Renan disse que isso é nome de chuveiro hahaha) e Alberto Fraga, coronel da PM brasiliense da turma do ex-governador José Roberto Arruda, ladrão e mau caráter que violou o segredo do painel do Senado para dedurar como havia votado cada um na cassação de Luiz Estevão, outro bandido…
Não vai demorar muito, no máximo dois ou três meses, para o Brasil inteiro perceber a fria em que entrou com Jair Bolsonaro e seu vice general Mourão. Mais aí será tarde e o próprio presidente eleito acelera o processo, com vídeos exortando crianças a gravar professor dando aula e incitando a violência entre seus adeptos com ameaças de fuzilamentos. Quem resumiu bem a situação foi o eleitor Marcelo Garcia, lacônico e direto como soco no queixo: “Votei em Bolsonaro, mas essas atitudes são de um completo imbecil”.