Vai começar… Vai ter massacre de negro pobre favelado. E parte da sociedade vai aplaudir.

Policias militares dos batalhões de Choque fazem blitz em diversos pontos próximos à comunidade da Rocinha, na zona sul do Rio, onde nos próximos dias deverá ser realizada uma operação para a instalação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).

A eminente ocupação da Rocinha por uma UPP provoca uma série de adiamentos em eventos e acontecimentos importantes. Moradores seguem a vida preocupados.  É possível ver a tensão no ir e vir de moradores da comunidade e também há uma preocupação generalizada entre os moradores de bairros vizinhos, como São Conrado e Gávea, pessoas estão evitando transitar nas ruas, outros estão planejando se acomodar em casa de parentes e amigos ou até providenciando viagens.

Segundo o site rocinha.org, moradores da Rocinha trocam informações sobre a situação na favela, publicam frases e textos de incentivo e revelam suas preocupações em redes sociais. Uma moradora da comunidade revelou a seguinte frase em seu perfil: “Meu Deus, abençoe todos os moradores da Comunidade Rocinha. Cubra-nos com Teu manto sagrado e nos guarde de todo o mal…”. Líderes comunitários também revelam seus pensamentos, entre veículos de imprensa e instituições. O fato é que a preocupação é generalizada,

Ainda segundo o site na ocupação da Rocinha, serão mandados homens da Marinha e equipamentos militares para a ocupação do morro. Apesar do ministério da Defesa não confirmar formalmente a participação na operação, o pedido de apoio logístico feito há cerca de dez dias pelo governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).

E ninguém se move com a mesma paixão que se move para defender os meninos da USP. O país é muito grande… Dá pra contribuir em todas as causas! Mas, cadê, né?

Estava fazendo este paralelo na cabeça. Na USP há a pretensa “elite intelectual branca”. Que jogou esse país no atraso por anos. Mas, neste país, branco e rico não passa muito tempo na cadeia tempo. Já na Rocinha…

Lembrem, ali é caminho para a Barra da Tijuca. Onde vão ficar a maioria das delegações. E onde a maioria dos moradores é negra pobre favelada. Não serão 70 presos ilesos como na USP. Talvez venham a ser 70 mortos e parte da sociedade carioca vai aplaudir.

A favela da Rocinha teve origem na divisão em chácaras da antiga Fazenda Quebra-cangalha, produtora de café. Adquiridas por imigrantes portugueses e espanhóis, tornaram-se, por volta da década de 1930, um centro fornecedor de hortaliças para a feira da Praça Santos Dummont, que abastecia a Zona Sul da cidade. Aos moradores mais curiosos sobre a origem dos produtos, os vendedores informavam que provinham de uma “rocinha” instalada no alto da Gávea,

O descaso do governo com a comunidade, a falta de infraestrutura, a construção de barracos de papelão, a degradação de áreas verdes, o crescimento desordenado, a distribuição de água através de bicas, entre outros problemas, provocou grande indignação, reivindicações e abaixo-assinados da população, que se organizou, engajando-se em muitos protestos em prol da comunidade.

A partir da década de 1970, a comunidade obteve os primeiros progressos, resultado das reivindicações ao poder público, como a implantação de creches, escolas, jornal local, passarela, canalização de valas, agência de correios, região administrativa etc. O primeiro posto de saúde foi criado em 1982, com muito esforço dos moradores, através da iniciativa do padre local que ofertou à comunidade um presente de natal. Os moradores mobilizaram-se para promover a canalização do valão e, por conseguinte, criou-se o posto de saúde. Nesse processo, algumas famílias que habitavam o valão foram deslocadas para o Laboriaux, no qual havia 75 casas construídas pela prefeitura, sendo que duas destas foram fundidas para a instalação da Creche Yacira Frasão.

É interessante lembrar que a primeira luz não foi elétrica. Diz o povo que um cavaleiro atravessava a Rocinha acendendo os lampiões das pequenas casas. Depois, foram implantadas cabines de energia que faziam a distribuição para as famílias mais próximas. Mais tarde, foram instaladas comissões de luz (bairro Barcelos e Rocinha). A Igreja Católica, em parceria com a pastoral de favelas, pressionou a Light para implantar energia elétrica nas comunidades e a Rocinha foi uma das primeiras beneficiadas.

A Rocinha tem características peculiares: atualmente, encontra-se, no bairro Barcelos, uma grande variedade de comércio e serviços, além de muitos imóveis residenciais de qualidade. Já em outras áreas, como a Vila Macega, encontram-se casas de madeira em situação de risco sem infraestrutura, onde diversas famílias vivem em extrema pobreza. Sua população é estimada em 120 000 moradores pelos registros da Companhia de Energia Elétrica, em 62 000 pelo último censo oficial, e em mais de 150 000 segundo os próprios moradores.

Como diz Ernesto Clemente: Na medida em que a polícia ocupa militarmente espaços que eram anteriormente ocupados por traficantes armados, se trata ainda de um território sob ocupação armada, sob ocupação militar, no qual tudo se submete inevitavelmente aos critério militares, aos critérios e hierarquia da caserna, inclusive aí a mais importante dimensão humana, a dimensão política. Seria melhor fornecer e garantir ao povo, ao invés de ocupação ostensivamente armada, as verdadeiras ferramentas que conduzem à democracia: educação, dignidade, emprego e um ambiente no qual a liberdade seja garantida pela cidadania, por uma postura interna ou estado de espírito,  e não por militares armados.

A assessoria da Aeronáutica informou, haverá restrição do espaço aéreo em região próxima à da Pedra da Gávea, no Rio, entre 0h e 16h de domingo. O motivo da medida, segundo  a Aeronáutica é a operação militar que pretende ocupar a favela da Rocinha. A restrição ocorrerá numa área com raio de 2,8 quilômetros e 900 metros de altitude, de acordo com a assessoria da Força Aérea.

Muito provavelmente, dessa vez devem proibir o espaço aéreo da Rocinha, para poder fazer o massacre que queriam fazer na invasão da favela do Alemão. Fechar o espaço aéreo significa que ninguém verá, pela TV, a carnificina que será feita contra os bandidos em fuga?

A advogada Ana Paula Lomba nos lembra de que o Estado, ao realizar operações policiais ou “pacificar comunidades”, não está dispensado de seguir as regras previstas em lei para a investigação e prisão de cidadãos acusados do cometer delitos, ou seja, qualquer medida que vise o combate à criminalidade deve ser praticada sempre, inexoravelmente sempre, sob o manto da legalidade. Ela ressalta que o artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou durante o dia, por determinação judicial;”

USP e Rocinha: mesmo país, dois tratamentos. Aguardem o desfecho.