Criamos, a se perder na poeira da História, um aplicativo chamado calendário, para lidar com os ciclos do tempo. Nomeamos todas as partículas do invisível tempo, das menores às gigantescas, e assim procuramos “otimizar” nossa “performance” na existência finita que nos coube. A cada virada de ano, iniciamos uma nova volta ao redor do sol. Uma ciranda ao redor da esférica fogueira? Os giros de nosso planeta bailante inventam a noite e fazem o calor intermitente, mas o nossa órbita obsessiva em torno do astro-rei é eterna.
O ano que agora vai se finalizando foi marcante. Talvez traumático. A democracia foi escrachada aos olhos de todos. O partido do golpe é desmascarado, desmoralizado e se autorridiculariza a cada empenho. O breve sonho olímpico, tão recente, já foi dissipado na poeira da História, que, por vezes, acelera e desfaz cenários num estalar de dedos.
Agora, somos a cidade mais violenta do Estado mais falido do país. O oligarca triunfante dos anos recentes está atras das grades, assim como sua esposa, grandessíssima advogada de eloquentes empresas. Seu herdeiro paga mico com o caixa vazio. Milhares de pessoas tiveram as suas rendas subitamente cortadas. É mais do que crise. É caos.
Mundo é o entorno de nossas pálpebras. O planeta é imenso, mas a vida acontece mesmo é nas cidades. Vamos precisar de uma força que ainda não temos, de uma destreza que ainda vamos desenvolver e de uma motivação que agora parece improvável. Vamos precisar empreender grandes mudanças. Algumas delas irão começar no miudinho. Outras, já semeadas, precisarão de força para se ampliar, ganhar volume e escala. O tempo urge.
Todos os campos estão aí, abertos, sedentos de mudanças. Mídia, segurança, educação, política, turismo, transporte, saúde, comércio… Os empreendedores vocacionados para estas áreas poderão contribuir para uma cidade melhor, menos desigual, menos violenta, mais justa. Precisaremos, todos, de mais empenho de participação na vida coletiva. Mais aproximação com os temas da cidade. Melhor atuar e melhor exigir. Impactar para produzir mudanças. “Empreendedorismo Cívico”: ação e motivação para melhorar a vida nas cidades.
Inicia-se com o ano um novo ciclo de governo municipal. O que vamos exigir do novo governo? O que terão a nos oferecer? Um novo ciclo de mesmice? Um novo ciclo de marketing? Um novo ciclo de um velho caô? Saberemos lidar de outra forma com nossos representantes eleitos?
Ainda não temos respostas, nem novos modelos de ação, mas precisamos tatear, forçar insights e aproveitar este período-das-reflexões-e-dos-planejamentos-e-metas para pensar na cidade que temos, na cidade que queremos e no nosso papel e responsabilidade diante disso.
Vamos empreender uma nova cidade?