Vale muito estar na varanda e contemplar a beleza
que desce correndo de encontro
o carro, que vende a um real,
duas bolas de sorvete.
No fundo, no ouvido esquerdo, soa baixo um elegante
jazz rock,
no outro é mais audível o agudo
que se estende entre o grave
do funk e suas delícias.
Latidos penetram em ambos, mais no fundo, como se
fossem entendidos na alma. – Aquela abstrata força
que se esvai quando
a bala
interrompe
a vida.
É preciso estar numa varanda para contemplar a cena
onde o carro dos homi esvazia
a rua
e a vizinhança.
Secos passos chiam no imaginário
como uma fuga desesperada
contra
ser prisioneiro.
Correm passos, latidos, música e beleza
e a lei
é ter uma varanda
para repousar pensamentos
e
pular atirando poemas
que perfurem as vias da existência.
* Matéria publicada no jornal A Voz da Favela, Rio de Janeiro, novembro 2019.