Um ministro do Supremo Tribunal Federal confidenciou lá atrás que a reunião ministerial do dia 22 de abril foi como visita ao bordel, mas assistindo agora pela televisão à gravação liberada por Celso de Mello, não vejo paralelo possível. Pareceu mais a reunião de uma confraria na qual cada um chega com suas anotações e fala bem de tudo e de todos.
A unanimidade foi o ataque à esquerda (se é que se pode chamar assim o PT e os demais da oposição) e a evocação do passado, sobretudo de Bolsonaro, autor da proposta de voltar há 50 anos no tempo em seu governo.
Fora os relatórios setoriais e os elogios do governo a si mesmo, a reunião foi a peroração do presidente, irritado, exaltado, queixoso até de que o serviço de informação brasileiro “é uma vergonha”. Ele não tem nada a ver com isso, aparentemente.
“Trocar parquímetro? É tudo putaria!”. Sinceramente, no bordel há mais elegância. “Eles querem a nossa hemorroida, a nossa liberdade”, outra afirmação que não compreendi e me deu saudade do brigadeiro Eduardo Gomes quando pregava “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Dizer que a liberdade é uma hemorroida é enaltecer a ditadura como regime ideal, o que Bolsonaro sempre achou e nunca escondeu de ninguém.
No geral, aliás, pontuou e sublinhou e enfatizou o golpe militar de 1964 sem falar em “revolução” nem em “golpe”, mas disse que se os militares não tomassem o poder lá atrás, o país estaria na merda. Na mesma toada, Paulo Guedes acusou os 30 anos de política desenvolvimentista como a causa do fracasso atual: “O país quebrou, quebrou, como vai investir se não tem dinheiro?” Propositalmente, ambos desconheceram que a crise maior veio da ditadura militar e o desenvolvimentismo foi uma grande discussão nos governos Fernando Henrique Cardoso.
Bolsonaro, histrião como sempre, se queixou de que seu irmão foi a um açougue em São Paulo e a Folha noticiou que foi barrado por falta de máscara. Falou que o dono do açougue desmentiu, mas a imprensa ignorou. Pediu aos ministros que não falem aos repórteres e defendam o governo com vontade, porque estão numa guerra, e “se der outra coisa em 2022 nós vamos todos pra cadeia”.
A impressão geral é de informalidade e até descontração na reunião ministerial, mais até do que as interferências de Bolsonaro na Polícia Federal. Foi um encontro de uma turma de gente heterogênea com um lastro comum, o apetite pelo poder. Uns exagerados, outros comedidos, mas submetidos da mesma maneira aos gritos e palavrões do bedel.