Faz um tempo que quero escrever sobre o cinema que se faz na África. Fico sempre adiando porque gostaria de escrever um texto a altura desta, para mim, tardia descoberta. Sempre me achei cinéfilo. Amo o cinema iraniano, o melhor filme que vi em 2016 é egípcio e sempre me interessei por cinematografias de países fora do eixo tradicional.
Um encontro casual no YouTube com o filme Ceddo, de Ousmane Sembene, me abriu as portas para este universo incrível.
Ousmane Sembene é o cara! Cineasta e escritor senegalês, é considerado o pai do cinema africano. Possui uma obra extensa e variada e uma vida de militância intensa. Ceddo é uma excelente obra de entrada: passado no fim do século XVII, no Senegal, conta a história de uma tribo que ousa resistir ao processo de islamização que se acentua após a conversão do Rei Demba. É uma incrível aula de história e resistência, com um final altamente impactante.
Em setembro, assisti no Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, no Odeon, o documentário Tahar Cheriaá: à sombra do Baobá, que fala da luta de Tahar Cheriaa, tunisiano, criador do primeiro festival africano de cinema (Jornada de Cartago) e de sua amizade com Ousmane Sembene. É um impressionante retrato do ativismo cultural da África pós-colonial, lutando por um cinema autêntico e realizado por africanos – o #NósPorNós da representação cinematográfica.
Agora, a Caixa Cultural nos oferece uma excelente oportunidade de conhecer melhor este universo. De 14 a 26 de novembro, rola a mostra Grandes Clássicos do Cinema Africano, com ingressos a R$ 4!
A Negra de…, de Ousmane Sembene, estará nesta mostra. O filme é de 1966 e completamente atual, já que retrata o dia a dia de uma senegalesa que vai morar na França para trabalhar como empregada doméstica. De Sembene, teremos também a sátira política Xala, que mostra um ministro africano que se casa com a terceira mulher e que fica impotente após um feitiço.
A programação também traz o francês Jean Rouch, autor de filmes etnográficos sobre a África e alvo de polêmicas com Sembene, que criticava a forma como europeus abordavam o seu continente. Dos seus filmes, Sembene admirava apenas um: Eu, um negro (1959), que será exibido. Trata-se de uma mistura de ficção e documentário que mostra o dia a dia de jovens nigerianos em busca de trabalho na Costa do Marfim.
Bom, aconselho vocês a comparecerem a Caixa Cultural para descobrirem estes e outros filmes africanos. A programação está bastante ampla e vale muito conferir! Todos os filmes citados também estão disponíveis, legendados, no YouTube.
Viva o Cinema Africano! Viva Ousmane Sembene!