Você roubou meu coração

(imagem de reprodução da internet: site: S2RIO)

Fui preso por três vezes.
Muito para alguém aos 13.
Furto em meio a multidões no mar azul.
Fruto das minhas corridas na Zona Sul.
Eu precisava mudar por ela.
Era mais bonita que o brilho da estrela.

Não comia quase nada durante o dia.
“Mendigo” era o nome que o leitor me daria.
O meu: João.
Amanhecia sempre no chão.

Em noites bonitas, estendia um pedaço de papelão na pedra.
Um piquenique a luz da lua nos espera.
Arpoador nos calaria a fome.
Umas migalhas de pão e ela some.
Tudo que precisava estava em Maria.

Não aprendi nada com os anos.
Amanhã faço 18.
Me soltavam e eu fazia de novo.
Resultado:
Preso na praia em frente ao meu tesouro.

Naquele momento, escorreu a lágrima que escondi.
Não queria que ela me visse ali.
Ela chorava e eu não tinha como dizer:
“Eu te amo, não vou te esquecer”
Só de pensar no processo em revistar…
Era humilhante leva-la para lá.
Prisão não é lugar para ninguém.

80 na cela,
Meus pensamentos só me guiavam até ela.
Sem espaço,
Eu nem via o sol nascer quadrado.
Não havia sol,
Quanto mais formato.

Dia do julgamento!
A justiça não se comove mais com meu lamento.
Agora sou maior de idade,
Eu me rendo!
Minha mente tão cheia de maldades,
Eu nem conseguia dormir.
Roubei tanta gente em pouco tempo que vivi.

Muitos preferiam me matar a me compreender.
Quanto de política a gente precisa entender
para saber que matar não irá resolver?
A pessoa pode ser ruim de coração,
Mas e o problema que vem da educação?

A família é a estrutura
E eu não tinha nenhuma.
Antes de aprender alguma coisa no colégio,
Aprendi na rua.
Condenado eu fui.
Ao meu filho e Maria,
Me desculpa.

Israel Sant’Anna Esteves