Votações na UFRJ: quem assumirá a reitoria da federal do Rio?

Campus da Ilha do Fundão, o maior da UFRJ. Créditos: reprodução da internet.

Desde o dia 2 de abril, os corpos discente, docente e técnico votam para indicar uma nova chapa para a reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As eleições na UFRJ não são diretas, ou seja, a chapa vencedora não assumirá a reitoria automaticamente. Tradicionalmente, as universidades federais escolhem um reitor e a decisão é acatada pelo presidente da República, o qual, por lei, também pode não aceitar a escolha do colegiado acadêmico.

Entretanto, da última vez que um presidente não acatou a decisão da UFRJ, o reitor exerceu um mandato bastante conturbado. Esse episódio ocorreu em 1998, quando a universidade entregou ao Ministério da Educação a lista com as três chapas na ordem em que foram escolhidas na votação, na qual constava Aloísio Teixeira, que chegou a ser torturado em 1969 durante a ditadura, em primeiro lugar. Porém, o então presidente Fernando Henrique Cardoso escolheu o terceiro colocado, José Henrique Vilhena de Paiva. Com essa decisão, o alunado e os funcionários fizeram vários protestos, impedindo, assim, que o reitor aplicasse suas decisões. Mesmo com um mandato truncado, Paiva não renunciou ao cargo. Antes mesmo que ele assumisse, inclusive, alunos, técnicos e professores se instalaram no prédio da reitoria durante 44 dias para impedir que o reitor ocupasse a cadeira. Ao final do mandato de Vilhena- que, naturalmente, não tentou se reeleger- movimentos como a CUT participaram de um ato de despedida no qual a frase que vigorava era “Xô, Vilhena”. Em 2003, Aloísio Teixeira acabou sendo eleito.

Esse episódio prova que quando o presidente passa por cima da autonomia de uma universidade federal, a situação se torna delicada. Em nota, o sindicato dos reitores das universidades federais (Andifes) expressou preocupação no que diz respeito à forma como os reitores serão escolhidos durante o governo Bolsonaro, uma vez que o presidente já expressou, de forma indireta, sua contrariedade às frentes universitárias de esquerda, o que significa que chapas esquerdistas, ainda que cheguem a serem as mais votadas, podem não ser acatadas.

“Não respeitar a indicação de um primeiro lugar não é simplesmente fazer um juízo contrário à qualidade administrativa ou às posições políticas de um candidato ou candidata, mas, sim, de modo bastante grave, desqualificar a comunidade universitária e, também, desrespeitar a própria sociedade brasileira, atentando contra o princípio constitucional que preza a autonomia das universidades públicas”, publicou o sindicato.

Em 2016, Michel Temer voltou atrás em sua decisão de não respeitar a indicação de Márcia Abrão para reitora da Universidade de Brasília. Diante de forte resistência, o então presidente resolveu referendar a escolhida pela UnB. O atual reitor da UFRJ, Roberto Leher, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que concorda que o nome mais votado nas eleições assuma a gestão.

O que torna as eleições da UFRJ ainda mais delicadas é o fato de que o Museu Nacional, que pegou fogo no ano passado, é gerido pela universidade, sendo a reestruturação do museu um grande desafio para quem for eleito. Além disso, em 2020 a Universidade do Brasil- como também é conhecida a Federal do Rio- completará 100 anos, sendo oficialmente a primeira universidade federal do país. Nomes notáveis já passaram pelos campi da federal, dentre eles Oscar Niemeyer, Vinícius de Moraes, Fátima Bernardes, Clarice Lispector, Jorge Amado e tantos outros, todos formados pela UFRJ. Segundo o RUF, Ranking Universitário da Folha, a federal do Rio é a segunda melhor universidade do Brasil. Quem assumir terá que arcar com a responsabilidade de manter a qualidade dos cursos e melhorar a estrutura dos prédios. O alojamento estudantil já pegou fogo diversas vezes e muitos campi são mal iluminados, tornando o ambiente inseguro especialmente para os alunos que estudam à noite.

As chapas concorrentes são:

Chapa 10: Denise Pires e Fred Rocha – “A UFRJ vai ser diferente”

Dentre as principais propostas da chapa, estão:

– A criação de unidades de atendimento psicopedagógico nos campi;

– Criação da Superintendência de Assuntos Desportivos Estudantis;

– Reforma do bloco B da Residência Estudantil e ampliação do número de vagas;

-Melhora da infraestrutura física da universidade;

-Criação da câmara de “Gerenciamento de Conflitos” no CSAGP para prevenir e discutir os casos de assédio moral e sexual.

Chapa 20: Roberto Bartholo e Fellipe Cury Marinho- “Minerva 2.0”

Propostas:

-Fazer o espaço universitário digno, belo e motivante;

-Segurança: combinar poder público e segurança universitária;

-Encaminhar colegiadamente as questões do Complexo Hospitalar;

-Afrouxar a corda do estrangulamento orçamentário;

-Formar cidadãos livres e competentes;

Chapa 40: Oscar Rosa Mattos e Maria Fernanda Quintela- “Unidade e Diversidade pela Universidade Pública e Gratuita”

Pontos principais propostos pela chapa:

– Dialogar com o poder público pelo direito estudantil aos passes livres municipais e intermunicipal;

-Garantir a implantação completa da Política de Assistência Estudantil da UFRJ e de seu programa de bolsas;

-Concluir obras de moradia e buscar meios de financiamento para novas construções;

-Garantir a manutenção do valor de 2 reais por cada refeição nos Rus, para estudantes de graduação e pós-graduação;

-Implementar ações específicas para estudantes com filhos/as;

Se eleita, Denise Pires será a primeira mulher a gerir a Universidade Federal do Rio de Janeiro. A chapa 40 é a de indicação de Leher, o atual reitor da universidade. Já a chapa 20, é a mais próxima dos liberais economicamente e conservadores nos costumes. Até o segundo dia de votações, o quórum era preocupantemente baixo, o que levou os candidatos a convocarem os integrantes da UFRJ às urnas. O Sistema Integrado de Gestão Acadêmica enviou e-mail ao corpo discente da Escola de comunicação para ressaltar que apenas 10% dos alunos da Eco votaram. Isso mostra como o alunado está descrente quanto à gestão da faculdade. Entretanto, é de suma importância que todos exerçam seu direito ao voto, para que a Universidade do Brasil seja um ambiente democrático e saudável para todos, todas e todes.

Campus da Praia Vermelha, na zona sul do Rio. Créditos: reprodução da internet.
Campus de Macaé. Créditos: reprodução da internet.