Voto na ONU nesta quarta-feira será prova de fogo do Itamaraty

Protesto antirracista no Brasil - Foto da internet

Nesta quarta-feira (17) está prevista a votação na ONU de uma resolução que cria uma comissão internacional e independente para investigar o racismo e a violência policial contra negros nos EUA, em decorrência da morte de George Floyd em Minneapolis. Os protestos chegaram ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas e a votação de amanhã é vista como teste de fogo da diplomacia brasileira perante a comunidade internacional: como o país se posicionará daqui em diante na luta antirracista internacional? Afinal, países racistas como o Brasil poderão ser analisados, embora a resolução desta quarta-feira tenha o cenário atual dos Estados Unidos como foco.

Um voto contrário a essa resolução, ou uma abstenção, não apenas serão mais um atestado da interferência ideológica do governo Bolsonaro no Itamaraty, mas também uma forma de demonstrar subserviência incondicional aos Estados Unidos. Mais do que isso, um eventual não apoio à resolução proposta representa uma proteção às próprias políticas genocidas, negacionistas e revisionistas do governo Jair Bolsonaro contra a população negra no Brasil.

A letalidade da violência policial do país permite falar em genocídio porque tem como alvo justamente a população negra — das 6.220 mortes por intervenção policial em 2018, segundo o Anuário de Segurança Pública, 75,4% eram de negros. Comparativamente aos Estados Unidos, a polícia brasileira mata até cinco vezes mais que a polícia norte-americana. O país também é negacionista porque o governo insiste em evocar o mito da democracia racial ao dizer que, segundo palavras do próprio vice-presidente Hamilton Mourão, a formação da sociedade brasileira “não nos legou o ódio racial”.

Por fim, incrivelmente revisionista quando o presidente Jair Bolsonaro imputa aos africanos a responsabilidade pela escravidão ou quando a Fundação Palmares boicota e censura personagens negras históricas de suas páginas na internet. Como membro do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Brasil tem direito de propor e votar resoluções, e a omissão em assunto tão urgente com certeza reforçará seu isolamento político no mundo.