São os trabalhadores e tralhadoras das escolas que melhor conhecem as mazelas das crianças e adolescentes, histórias de violência, fome, miséria e os mais diversos sofrimentos. O debate da reabertura das escolas e volta às aulas tomou conta da imprensa e redes e as crianças e adolescentes se tornaram destaque no debate das desigualdades sociais.
Estudantes de escolas públicas muitas vezes têm acesso às políticas públicas através das escolas e pelo contato com os professores e funcionários capacitados que ajudam as famílias a enfrentar as mazelas sociais. Mazelas estas, que estão cada vez mais agravadas pela falta de investimentos nas áreas socais e políticas de austeridades que levaram tantas famílias para a miséria. A desvalorização dos educadores(as) e trabalhadores(as) da educação também não é novidade no Brasil.
A grande imprensa e a opinião pública – vinda principalmente das elites – têm atacado essa classe pela defesa do não retorno às aulas e ignora uma pandemia não controlada que já levou mais de 100 mil pessoas no país. Mais uma vez essas vozes estão vendo as crianças e jovens como sub-cidadãos, como pequenos adultos ainda não preparados para o mundo do trabalho mas já vivendo a lógica do lucro. Não é possível a que proteção de vidas das futuras gerações não seja prioridade!
É no mínimo desonesto colocar as escolas (ainda mais sem um projeto para educação básica) como salvadoras de todas as necessidades das infâncias. Colocar a escola como solução para todas as necessidades nutricionais, de falta de saneamento básico, enfrentamento à violência e entre tantos outros problemas. Esse desespero para reabertura das escolas é um grito alto para que toda a miséria das infâncias volte a ser um problema enclausurado em salas de aulas e corredores de escolas e não de uma sociedade inteira. A urgência é em devolver para educação básica os problemas que antes só eram das escolas e das famílias já abandonadas pelo poder público.
Por fim, defender a reabertura das escolas deve ser substituído por defender a vida; por ter políticas de enfrentamento à violência, fome e miséria; por seguir os protocolos de saúde indicados pelas Organizações Mundiais de Saúde. O novo normal não pode mascarar a infância, não pode ignorar a precaridade das condições das escolas públicas, o novo normal não pode ser um versão pior do normal que já vivíamos antes.