Na última sexta-feira, 28, o estado do Rio de Janeiro e o Brasil inteiro, amanheceram com a notícia do afastamento do Governador Wilson Witzel (PSC), pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O motivo da decisão foi a denúncia de superfaturamento na compra de respiradores e lavagem de dinheiro. Surpreso e revoltado com a decisão, o Governador declarou-se inocente, e fez acusações ao Presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de estar fazendo uma perseguição a ele e ao seu governo.
Witzel, que era um político e um candidato desconhecido de todos, se elegeu Governador do Rio de Janeiro em 2018, com o apoio de Bolsonaro e seus filhos, surfando tranquilamente na grande onda bolsonarista que tomou conta do Brasil. Se dizia bem próximo do então candidato a presidente, fazendo questão de falar em entrevistas que esteve reunido com ele em almoços ou jantares. Criticava duramente adversários políticos dos Bolsonaro, que passaram a ser seus adversários também, e usou também em sua campanha o slogan “Deus acima de todos, Brasil acima de tudo”, se declarando cidadão de bem, cristão, defensor da família tradicional brasileira e detentor da moral e bons costumes, como faziam os candidatos evangélicos e católicos.
O então candidato ao governo do segundo maior estado da federação, que dizia que “iria mudar o Rio com juízo”, foi apresentado e lançado na política pelo Pastor Everaldo (PSC), se viu eleito com maioria esmagadora dos votos válidos, surpreendendo a todos, inclusive o segundo colocado, Eduardo Paes, que era favorito nas pesquisas até às vésperas das eleições. Wilson Witzel, até 20 dias antes do pleito, tinha apenas 2% das intenções de voto, sua aproximação com Jair Bolsonaro, o fez disparar inexplicavelmente, garantindo sua eleição, e assim, passando a ser conhecido dos cariocas e fluminenses, e também de todo povo brasileiro.
Logo depois de eleito, em uma comemoração ao lado dos deputados estaduais eleitos, Rodrigo Amorim e Daniel Silveira, rasgou uma placa de rua em homenagem a Vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio. Alvo de críticas do Psol, partido da vereadora, e de entidades públicas, o mesmo disse que não participou do ato, contradizendo as imagens que ainda circulam nas redes sociais.
O governador também polemizou em sua primeira declaração, dizendo que “qualquer pessoa que estivesse na rua portando um fuzil, seria abatida. Que iria ‘mirar bem na cabecinha’, e fogo”! Estas palavras mobilizaram a opinião pública, a deixando muito mais dividida do que já estava. Entidades com os Direitos Humanos (DH), Defensoria Pública e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entre outras, repudiaram a declaração de Witzel, alegando que ele estava passando por cima da Constituição. Mas, as notas de repúdio foram ignoradas por ele, dando carta branca aos policiais, afirmando que responderia na justiça por eles, caso abatassem algum cidadão.
E não foram só as declarações polêmicas que agitaram o governo de Wilson Witzel, aparições fazendo exercícios físicos em batalhões e correndo nas praias ou em estradas com o BOPE, comparecimento em velórios de policiais, se demonstrando emocionado, e um vídeo que gravou, a bordo de um helicóptero que sobrevoava uma favela em Angra dos Reis, disparando diversos tiros. O mesmo dava apoio a uma operação policial que ocorria no local. Na época, uma tenda de orações de uma igreja evangélica foi metralhada, deixando todos perplexos, gerando diversas declarações de repúdio de políticos da oposição e de entidades e órgãos públicos. Por sorte, naquela manhã, a tenda estava vazia.
Mas, as polêmicas não pararam por aí. O número de vítimas de balas perdidas cresceu assustadoramente em 2019, primeiro ano de governo, em relação a anos anteriores. Houve um aumento de 40% em relação a 2018. As mortes de policiais em confronto, também tiveram um crescimento recorde. O aumento foi de 18% em relação ao ano anterior. E sem contar as mortes cometidas por eles, que também tiveram um crescimento avassalador. E o fator agravante destes casos foram as inúmeras operações policiais simultâneas que ocorreram o ano passado. Houve dias, que eram mais de 14 operações em diversas favelas, no combate ao tráfico de drogas, ocorrendo em todo estado do Rio de Janeiro. O Rio era uma verdadeira praça de guerra, durante 24 horas consecutivas.
E estes dados alarmantes não incomodavam e muito menos eram motivo para frear o instinto sanguinário de Wilson Witzel. Quanto mais vítimas surgissem, independente de ser um cidadão ou uma cidadã, uma criança, até mesmo um policial militar ou civil, dava mais chances a ele de dar suas declarações polêmicas, falando para o eleitores que o elegeram. Era a oportunidade de aparecer ainda mais, fazer sua campanha eleitoral para presidente em 2022, já que se declarou candidato ao cargo no seu primeiro mês de governo.
A vaidade e a inexperiência de um novato
O Governador Wilson Witzel durante sua campanha eleitoral, cercou-se de vários políticos bastante experientes, que estão atuando a anos na vida pública. Confiou em cada um deles, seguindo a risca a cartilha escrita por eles. Os discursos de ódio, cheios de preconceito, racismo, machismo, sexismo, misoginia, etc, também eram sua marca registrada nos palanques e em frente as câmeras de tv.
Se apegou a Jair Bolsonaro e seus filhos, que são velhos conhecidos no cenário político, vendo neles o mais alto dos trampolins para se jogar de corpo alma na carreira política. Como decolou rapidamente da noite para o dia se aproximando do clã, depois de eleito, visando a cadeira de presidente, decidiu descartá-los, achando que não precisaria mais deles. Mas, Witzel não sabia que não era bem assim. Mesmo demonstrando ser um político fanfarrão, sem nenhuma experiência em administração pública, Bolsonaro está a três décadas na vida pública. Se preparou para ter seu retrato na galeria do Palácio do Planalto em Brasília, ao lado de outros presidentes, que sim, bem ou mal, governaram o país.
Mesmo que de maneira desastrosa, sabe tirar e por as peças no tabuleiro de xadrez político brasileiro. Ele sempre esteve alí, colado nas velhas e astuciosas raposas, aprendendo e absorvendo o que lhes convinha. E soube usar o momento difícil em que Brasil atravessava, para se projetar, falando o que muitos queriam ouvir.
Jair Bolsonaro não era um azarão como Wilson Witzel. Ele estava preparado e, sendo assim, preparou também seus filhos, pois a política para eles é um negócio de família, para ser administrado entre os próprios. E o governador, que se julgou tão esperto e muito mais capacitado, não prestou atenção nesse capítulo da cartilha cristã partidária. Como diz aquela famosa frase de uma personagem do filme Tropa de Elite; “quem quer rir, tem que fazer rir”. E o ex-juiz riu às custas do capitão e de seus subordinados, mas, não quis ajudá-los rir no momento em que mais ele precisou e ainda precisa muito.
Witzel se envaideceu demais com o cargo que ocupara. O poder lhe subiu a cabeça ao ponto de mandar confeccionar uma faixa, como as usadas pelos Presidentes da República. Perseguiu adversários políticos da oposição, sendo a deputada estadual Renata Souza, uma das que sofreu perseguição por ele, com a tentativa de cassação do mandato da mesma. A Deputa havia denunciado Witzel às Cortes Internacionais, após o episódio de Angra dos Reis e das inúmeras operações policiais nas favelas do Rio, com números crescentes de mortes. E como ela já vinha o confrontando desde o início, essa denúncia foi o estopim, para que o autoritário chefe do poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro, a perseguisse na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). E tudo por pura vaidade com o cargo. Como cristão, ele deveria saber que a vaidade é um pecado, praticamente, imperdoável no mundo político.
A queda meteórica em pouco mais de 1 ano
Como disse anteriormente, Witzel riu às custas de Bolsonaro, mas não quis o fazer rir. Principalmente, fazer rir seu filho, o senador Flávio Bolsonaro. O mesmo é investigado pela justiça do Rio, e depende da troca da direção da Polícia Federal para se livrar dos processos. A indicação é feita pelo governador, e como o eleito está em guerra política com o presidente, o mesmo achou mais fácil trocá-lo primeiro.
E foi usando mais um momento de fragilidade do Brasil, e principalmente do Estado do Rio, que Bolsonaro se apegou a pandemia do novo coronavírus, para derrubar seu desafeto. Denúncias de superfaturamento na compra de respiradores, irregularidades nas obras dos hospitais de campanha e desvios de verbas, levaram o Ministério Público (MP) a fazer várias operações de buscas e apreensões. E com a saída de Edmar Santos da Secretária de Saúde, todos os indícios apontavam para Witzel. O mesmo fechou delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR).
Diversas irregularidades vieram a tona, até mesmo, repasse de dinheiro para o escritório de advocacia da primeira-dama do Estado, Helena Witzel. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), foram repassados para escritório da primeira-dama, a quantia 554 mil reais, proveniente de propina para Wilson Witzel.
O governador não contava e não esperava por essa rasteira do presidente. Confiou na sua preparação de Doutor Juiz de Direito e sua ganância o cegou, não o deixando ler ao pé da letra as cláusulas e as minúcias dos contratos de acordos políticos. E agora, amarga uma derrota de ver seu maior sonho, que é chegar a Presidência da República, sendo desfeito pelas inúmeras denuncias de corrupção.
E se o Presidente Jair Bolsonaro não respondeu e não responde, o pôrque de Fabrício Queiroz ter depositado R$ 89 mil na conta de sua esposa, Michelle Bolsonaro, o governador Wilson Witzel terá que responder porque o escritório de Helena Witzel recebeu R$ 554 mil, e torcer para não ser o 6º governador preso no Estado do Rio de Janeiro em 5 anos.