Eram os anos 1980 e Natal, capital do Rio Grande do Norte, vivia uma explosão populacional. Nos fins da década, a capital potiguar superaria a marca de 600 mil habitantes. Surfistas e amantes do esporte no estado se empolgavam com as manobras arrojadas, e até então inéditas em nossas terras, de José Moura Dantas Junior, o Zeca Line.
“Zeca era um ídolo para nós. Quando comecei no surfe, ele era um pouco mais velho, e eu ficava admirado com a técnica dele. Era um backside extraordinário”, conta Tony Lisboa, que cresceu acompanhando a carreira de Zeca.
No surfe, em manobras de chão, chama-se frontside quando você desce a onda ficando de frente para ela. Backside é a rotação contrária, em que se dá as costas às ondas. Este último era o estilo dominado por Zeca Line.
Desbravando Fernando de Noronha
Ele também dominava outros recursos do esporte. “Fomos a primeira geração a desbravar Fernando de Noronha. Felipe Dantas, Ronaldo Barreto, Ivo Cabeção e eu. Demos sorte. Em Noronha o bom é de janeiro a abril, justo quando batemos lá pela primeira vez. Ali eu manobrava com o pé direito na frente, ruf foot como a gente chama”, contou Zeca.
O ortopedista Aílson Guedes também está entre a geração que cresceu admirando Zeca Line. “De costas pras ondas, Zeca revelava uma propriocepção extraordinária. Até hoje me admiro com o que ele era capaz de fazer”, conta Aílson.
Traduzindo: propriocepção é um termo que fala da capacidade do ser humano em reconhecer a localização espacial do corpo, posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo com relação às demais, sem necessariamente usar a visão.
Pegando onda desde os 15 anos
Pioneiro e ídolo de toda uma geração do surfe, Zeca também confeccionava suas pranchas e equipamentos para outros esportistas. Trabalhou com o mestre Ronaldo Barreto, que é fundador e proprietário da Radical Surfboards.
Zeca Line tinha 15 anos quando começou a movimentar a cena do surfe potiguar na praia de Ponta Negra. Depois, foi responsável por levar a prática para Pipa, Fernando de Noronha e outras praias de nosso litoral.
Sujeito humilde e irrequieto, quando fala parece estar num transe entre passado e presente. Mistura referências, personagens e situações como quem vê vários filmes ao mesmo tempo.
“Das melhores experiências que tive foi desbravar a Cacimba do Padre. Era uma turma boa aquela com a qual a gente ia. Fiz muita manobra ali que ainda recordo”, nos conta, com sorriso de satisfação.
Nos anos 80, o mundo do surf era outro
O esporte à época não tinha o reconhecimento atual. “Éramos até mesmo discriminados. Muita gente não via o surfe com bons olhos. Um fera como Zeca, hoje, seria idolatrado”, avalia Tony Lisboa.
Zeca conta que o único prêmio que chegou a receber em suas muitas conquistas foi uma prancha, em 1982. “Hoje o surfe traz mais recompensas, mas nada nos tira o que fizemos e o valor de fazer naquele tempo”, diz.
Hoje nosso Zeca Line trabalha com restauração e pintura em fibra de vidro. Pelo que contam seus clientes, segue sendo excepcional naquilo que faz.
“Aproveita pra divulgar nosso trabalho aí”, ele me diz. Tony e Aílson avalizaram o profissional na mesma hora. Para quem deseja conhecer esse pioneiro do hoje celebrado surfe potiguar e, de quebra, contratar seus recomendados serviços, é só fazer contato pelo WhatsApp do fera.
Outras redes sociais o campeão não tem. Prefere o ar livre e os sonhos às telas de smartphones.
Gostou da matéria?
Contribuindo na nossa campanha da Benfeitoria você recebe nosso jornal mensalmente em casa e apoia no desenvolvimento dos projetos da ANF.
Basta clicar no link para saber as instruções: Benfeitoria Agência de Notícias das Favelas
Conheça nossas redes sociais:
Instagram: https://www.instagram.com/agenciadenoticiasdasfavelas/
Facebook: https://www.facebook.com/agenciadenoticiasdasfavelas
Twitter: https://twitter.com/noticiasfavelas